sexta-feira, maio 24

Carta à ASAE

Querida ASAE, 

Há algum tempo que te quero dar umas palavrinhas. Daquelas que se pudesse eram em tom de ameaça para ver se te abanavam o esqueleto e deixavas de uma vez por todas de ser quem acha que tem a faca e o queijo na mão. Na mão, salvo seja, com luvas, que não se admite uma coisa dessas!

É óbvio que fazes falta. A higiene, qualidade e saúde alimentar são coisas com que não se brinca, apesar de continuar a ver muita  nojice, e continuar sem perceber que raio de actuação é a vossa que se fala para aí. E não, não estou a falar de boca cheia, antes estivesse, porque ainda estava a tempo de cuspir as minhocas que devorei o verão passado num magnifico sumo natural de laranja feito numa daquelas máquinas automáticas com laranjas inteiras num dos hipermercados mais mediáticos do nosso país. Que me deu voltas ao estômago durante horas só de as imaginar a remexer nas minhas entranhas. Aí sim, deviam estar vocês de pedra e cal. Assim como a controlar a roulote das bifanas lá da esquina que volta e meia vende gato por lebre. Não a implicar com mesquinhices a que não consigo dar outro nome. 
Já paraste para pensar quantos estabelecimentos fechaste que cheiravam a Portugal em cada recanto, em cada prato, mesa..? A tradição, sobretudo! Já paraste para pensar quantas receitas se perderam nos confins antiquíssimos do nosso país, nos rostos rugosos que entretanto vão partindo e levando consigo o seu saber, por não poderem ser vendidas sem um rótulo? Já paraste para pensar que os olhos também comem? E que esteticamente as tuas medidas são mais do que limitativas, são destruidoras de sonhos. 

Eu vou querer continuar a comer bem, mas gostava de poder ir a uma taberna do antigamente, com o típico lava louça de pedra e o balcão em mármore com bancos altos à altura do barril da imperial. A beber a típica ginginha feita em casa por aqueles que a sabem realmente fazer, em copos de chocolate artesanais, ou não, sem rótulos e tretas. 

Enfim, gostava que percebesses que te encontras a destruir a essência, a tradição, as receitas do arco da velha; o caseiro, puro, saboroso, original! 
Sonhos de pessoas com ambição e amor ao que é nosso, como eu.


1 comentário:

  1. Completamente! A pessoa pode espirrar para a luva e fazer uma sandes logo de seguida, desde que o pão, o fiambre e o queijo estivessem bem guardados e a pessoa use luvas. Mas entretanto vão fechando espaços que representavam um pouco da tradição de cada terrinha, região e país.

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