quarta-feira, outubro 30

Perdoar uma traição

Homens e mulheres à volta da mesa, a conversa chega ao perturbante tema das traições. É possível perdoar? É possível esquecer? É possível uma relação sobreviver depois de um, ou ambos, terem sido infiéis? Há quem ache que sim, mas eu, que sou pessimista por natureza, acho que não. Para mim, é impossível esquecer, uma traição é um dano tão grave que nunca se apaga da memória. Os traídos, sejam homens ou mulheres, sentem-se humilhados, insultados, substituídos, e mesmo que amem a pessoa que os traiu, irão sempre recordar aquele dia em que foram os últimos a saber que estavam a ser encornados e o chão lhes fugiu debaixo dos pés. Nasce a raiva, não só à pessoa que nos traiu, mas uma raiva que se estende ao sexo todo. Mulheres traídas passam a odiar os homens, aquele e todos os outros; homens traídos passam a odiar as mulheres, aquela e todas as outras do mundo. Alguns nunca recuperam e tornam-se azedos. Em certas circunstâncias, dependendo da idade das pessoas, da importância que dão à família e aos filhos, pode tentar-se reconstruir a relação, e há casos em que isso se consegue. Mas a mim parece-me uma intenção impossível. Acho que a perda de confiança é irrecuperável, quem nos mentiu uma vez pode mentir a vida toda, e se aceitarmos essa situação estamos a enviar a mensagem errada ao traidor. Quem perdoa e continua, está a convidar os traidores a traírem mais outra vez. Quem trai e escapa impune, sente sempre um sentimento de orgulho individual, de auto-satisfação, e um dia voltará a sentir a mesma tentação. Não se aprende com os erros, aprende-se é a errar melhor, e assim quem traiu refina-se, torna-se ainda mais inteligente e volta a trair diminuindo as possibilidades de ser apanhado. Os seres humanos são assim, não há volta a dar-lhe. Além disso, existe nos traídos uma vontade de vingança que é uma bomba-relógio para o futuro. A vingança é muitas vezes uma necessidade, a única forma de recuperar a auto-estima perdida, e começa então o ciclo das traições. Ele traiu, depois traiu ela, ou ao contrário, e a história nunca mais acaba. Mais vale cortar o mal pela raiz e seguir em frente. Com a facilidade com que hoje se arranja outra pessoa, para quê ficar com quem nos traiu?, in Dias Cães

E é isto. Se durante muito tempo fui apologista da luta incondicional pelo amor, hoje mudo a minha visão face ao assunto. Onde habita o amor jamais há lugar a descuidos temperamentais, a desculpas para a falta dele. Essa coisa da monotonia, da rotina das relações, do hábito, da conformidade, do "tu já és meu de qualquer das formas" não pode, nem é, nem pode ser, desculpa aceitável para que alguém tenha o direito de arruínar a nossa essência, abalar a nossa auto-estima e ferir o nosso ego. Há que aceitar que o amor, pelo menos por instantes, foi morto pelo desejo de querer mais do que aquilo que se tinha. E deixem-me que vos diga, um amor morto por instantes é das piores coisas que se pode querer viver no futuro. 
Nada voltará a ser igual. Acreditem.
Por tudo isto, façam como eu, amem-se a vocês próprios. Esse é o amor mais fiel das nossas vidas.

Patrícia Luz



















1 comentário:

  1. 100% de acordo, só acrescento mais uma ideia a esse texto, trair é ser egoísta e egocêntrico da pior das formas...

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