domingo, novembro 24

Sabádos sem amor


Mais um dia se avizinhava. Por entre as gretas dos cortinados que ficaram semi abertos do dia anterior entrava a primeira luz de uma manhã que já se prolongava à várias horas. Era sábado. E o que era dos sábados sem umas horas a mais de ronha. Escondia a cabeça debaixo da almofada; enrodilhava-se nos edredons  cuja forma tinha sido destruída pela preguiça de se levantar e solucionar os fechos de luz que a incomodavam. E ali ficava.. perdida nas horas, alternando o sono leve, com sonhos rápidos; resmungando subitamente com a luz que não a deixava permanecer neles por mais tempo, quando eram bons, pensando no quão parva era em não se levantar de uma vez por todas e aproveitar aquele sábado como se fosse o último da sua vida, acabando sempre por se enroscar um pouco melhor, fechar os olhos e sorrir desenhando assim a ideia de um descargo de consciência corporal, que se fala-se, certamente diria "que se lixe!". E ali permanecia... 
Não voltara a adormecer. Chovia. Com aquele acordar meio adormecido não se apercebera de que aquela luz morbida era de um dia cinzento e que talvez isso explicasse muita coisa: toda a nostalgia que o seu corpo adivinhara, talvez. Chovia. De olhos postos no tecto, coberta até à ponta do nariz, ouvia a chuva ecoar na janela. Conseguia imagina-la gota por gota a escorrer pelos vidros a baixo como lágrimas em caras tristes, naquele silêncio ensurdecedor que era a sua mente a pensar em como poderia aquele sábado tornar-se num sábado inesquecível.  Como poderia uma solteira aparentemente feliz com a sua vida, acordar com aquele sentimento de depressão nostálgica e utópica ? Talvez porque aquele sábado não fosse passar disso mesmo, de mais um sábado. Fechou os olhos. Que bom seria fechá-los enroscada num abraço apertado ou num daqueles beijos ensonados dos casais que acordam juntos em dias de chuva e fazem ronha como ela. Abri-los com crepes ao pequeno almoço na cama, e por ali permanecer sem horas nem minutos, devorando pipocas por entre séries e filmes, beijos, abraços e ... amor. 
Amor. Pois é, no final de contas esse era o sentimento que lhe faltava naquele momento.
Como poderia uma palavra tão pequena mudar o sentido daquele que podia ser um dos melhores dias da sua vida? 


- "Hora de Almoço!, chamavam-na.
Decididamente, aquele era um sábado destinado a ser igual a todos os outros.

(saudades de poder ser uma boa namorada, parte I)

Patrícia Luz
24 de Novembro de 2013



Fotos por: Filipa Marques (www.behance.net/philipa-marques)

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