quinta-feira, janeiro 16

Viver: ela, ele e o mar

Parecia que se conheciam há anos. Apesar de lhe poder dizer isso, preferia guardar cada instante como se fosse o último. 
Viver. Guardar cada instante como se fosse o último é isso mesmo, não é?

Viviam.  
O vento fazia os cabelos dela esvoaçar descontroladamente. Naquele momento talvez não se sentisse assim tão bonita como as protagonistas dos filmes românticos que via sozinha aos Domingos à tarde, quando deprimia a comer pipocas e chocolates na esperança de ter quem lhe segurasse docemente a cara com as duas mãos, prendendo assim os cabelos soltos, num daqueles i love you, stay with me desafogados, capazes de pôr termino a mais um final feliz; apesar disso, havia uma calma interior que a abrigava de tudo e de todos naquele lugar. Como som de fundo ecoava o mar. Um mar que não era o de sempre, encomendado a propósito, quem sabe, por um Deus qualquer. As ondas erguiam-se como não é costume e embatiam com a força de mil homens naquele recanto de terra, proporcionando aos de mais que por ali andavam um espectáculo que poucos se irão esquecer. Do lado de cá, estavam eles. Na cabeça dela, pouco mais importava além deles. Ele e o mar.
Abraçada às suas costas, com o olhar posto no horizonte por cima do que o seu ombro a deixava ver e as mãos encruzilhadas num abraço sem fim, protegia-se da atmosfera salgada que teimava em não dar tréguas. Lembrava-se da sua terra, do seu pai e dos sábados de manhã passados junto ao mar quando era miúda; lembrava-se como a vida dá voltas e como a última volta a fazia estar agora ali, abraçada a um porto seguro que ainda não era o dela. 

Fechava os olhos. Fechava os olhos e abraçava-o com força. A magia das coisas está na maneira como queremos olhar para elas. E com os cabelos a esvoaçar naquele abraço fechado, a magia das coisas estava onde ela menos esperava: entre o som do mar e o seu coração. 


Fazes-me bem. Tu e o mar.

Patrícia Luz
15 de Janeiro de 2014
Ben Howard



1 comentário:

  1. adorei! não sei se me encontro nas tuas palavras se é mesmo da maneira como escreves mas a tua escrita cativa-me cada vez mais!

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