Os amigos não são para as
ocasiões. Não são para dar a palmadinha nas costas e irem andando com a
sensação de dever cumprido. Os amigos nunca têm o dever cumprido. Os
verdadeiros amigos vão cumprindo o dever de o serem em todas as ocasiões. Mesmo
quando chove. Mesmo quando chove torrencialmente. Os verdadeiros amigos andam
na chuva mesmo que isso lhes valha uma constipação terrível. Porque não há
constipação que não se cure com um amigo ao nosso lado. E os verdadeiros amigos
são-no reciprocamente.
Tenho poucos amigos. Muito
Poucos. Isto porque decidi coleccionar amigos interessantes.
Os interesseiros resolvi
descartar da minha vida logo à partida. Não há paciência. Não há paciência para
sorrir com facas atrás das costas. Não há paciência para me fazer de burra
todos os dias e deixar passar em branco os olás cínicos proferidos daquelas
bocas que me cumprimentam com desdém a quem as vê nas minhas costas. Amizades
cruéis e fúteis coleccionem-nas vocês porque eu não quero amigos assim.
Vendo-os a quem os quiser. Não os dou porque
não vos desejo mal nenhum.
Eu não tenho muitos amigos. Mas
tenho os melhores.
O meu telemóvel não toca todos os
dias. Muitos deles nem toca. Não tenho combinado um café por dia. Mas todos os
meus amigos sabem perceber quando preciso de um. Mesmo não gostando de café.
Todos os meus amigos são-no porque eu permiti.
Sim. A amizade permite-se.
Permite-se. Respeita-se. Rega-se. E colhe-se.
Escrevo-te para te dizer que os
amigos não são para as ocasiões. E se permiti que o fosses foi porque acreditei
que o fosses ser na mesma medida. Talvez me tenha enganado. Caso contrário,
fazes-me falta.
Tomamos café?
Por ti talvez aprenda a gostar de café americano.
Por ti talvez aprenda a gostar de café americano.
Patrícia Luz
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