quarta-feira, julho 9

Esta podia ser a minha vida


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Perdia-se a tentar encontrar uma solução para cativar o amor da sua vida. E talvez não o fosse ser para sempre, mas naquele momento acrescentava todo o sentido que lhe faltava e por isso depositava nele todas as esperanças do mundo. Muitos o fazem mas poucos o praticam. Afinal amar alguém devia ser isso. Depositar em alguém a esperança de acrescentar todo o sentido que falta à vida. Ai não que não devia.. 

Noites mal dormidas e horas a decorar as falhas do tecto do quarto, com ele guardado num sitio entre a cabeça e o coração. Tantas. Umas em silêncio - só deus sabe o ruído do silêncio nestas alturas -, outras ancorada nas músicas que poderiam vir a partilhar. E por entre tudo isto um aperto no peito, quando o sol raiava as persianas semi-abertas contra a parede em sombras escuras por entre o amarelo celeste da madrugada, que chegara muito antes de ter conseguido fechar os olhos, e a faziam pensar que a luz do dia lhe trazia um novo rumo, que não aquele por que ela insistia lutar.

Nunca é tarde para lutar pelo amor da nossa vida. Nunca é tarde para pegar nas poupanças  e investi-las todas de uma só vez num seguro de vida que é ter alguém ao nosso lado. Em todas as alturas. Em todos os momentos. Especialmente no fim de um dia de trabalho, nem seja para fazer de bibelot na nossa sala a dormir a sesta com a televisão aos altos berros enrodilhado na nossa manta preferida. 

E foi por isso que lhe comprou o bilhete para o concerto do ano; para um dos seus artistas preferidos, no melhor lugar do mundo naquela plateia de milhares de pessoas, que era ao seu lado, embora ele ainda não soubesse. Foi assim que ela deu por si a investir todas as suas poupanças naquele que poderia vir a ser o homem da sua vida.

 Imaginava-o assim, com aquele ar desajeitado, mas inteligente, a desejar-lhe as boas tardes com um beijo na testa e pouco mais. Afinal de contas não é preciso muito mais. 

"És tão burra. Não é dessa maneira que vais conseguir!", murmurava um dos seus amigos próximos, pronto para a aconselhar em todas as horas. 

Burro és tu, pensou ela no quanto ele poderia ter razão dados os dias de hoje. 

E assim  vendeu o bilhete.
Comprou uma caixa de chocolates com quem partilhou a solidão da sala, 
e perdeu, quem sabe, o homem da sua vida, para sempre.

Patrícia Luz
Esta não é a minha vida
9 de Julho de 2014



E cá vos digo, burro foi o amigo que anseia que a mulher da sua vida lhe aceite o convite para o cinema. Tenho dito! Agora pensem na geração que cultivamos. 

 

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