Não julgue os outros. Quem sabe a vida não o esteja a julgar a si.
Uma hora perdida na sport zone à procura dos calções
perfeitos para começar a treinar e apenas dois minutos para me decidir sentar a
comer pizza hut. Fantástico. Ainda me
hão-de explicar o porquê disto nunca me acontecer com sopas e saladas. Última
vez! É a despedida de todas as vezes em que disse que era a última. Porque pelo
menos desta já tenho os calções a olhar para mim sobre a mesa. Coisas de mulheres.
E se não der certo, lata não nos falta para inventar uma nova ultima vez. Nem
que seja com o balança sob os pés.
Nove horas. Vinte uma, aliás.
Depois do azar de sair à pressa
do hotel para aproveitar o sol e a paz das dezoito em diante na praia mais
próxima e nem um buraquinho ter tido a sorte de arranjar para enfiar a princesa
do mónaco, é assim que chamo ao meu carro quando não serve para mais nada a não
ser comer gasóleo e pouco mais – aliás foi o nome que um dia lhe deram quando
veio parar às minhas mãos, vá-se lá saber porquê (não devem ter calculado o
fétiche que as gaivotas têm por ele, presumo) – e lá me ter contentado com a
sombra da piscina e uma família a palrear francês dez decibéis acima do normal,
foi mesmo ali, no shopping, que fui
afogar as minhas mágoas. Sim mágoas. Há coisas piores, eu sei. Mas tudo o que
quero muito fazer e não consigo, já é mau o suficiente.
Mas mau, naquele momento, era
estar a devorar fatias de pizza,
sozinha, com um telemóvel que para além de não ligar o wireless ainda me
enviava avisos de bateria fraca. Sozinha a dobrar, portanto. (Já viram como
esta última frase é triste?) A enfiar os olhos num televisor ligado para
ninguém, bem lá no fundo do corredor, onde não vejo nada, mas presumo que seja
futebol, só para o caso de alguém me estar a ver e eu não notar.
Foi mesmo aí que reparei num
casal que se encontrava ali ao lado. Ela linda! Loira, elegante, delicada, a
comer batata por batata, como as galinhas picam milho; depois ele, cheiinho,
para não dizer um pote, porque fica mal, a devorar um prato de esparguete como
se não houvesse amanhã, de tal forma que o molho carbonara conheceu todos os
cantos do tabuleiro. E depois eu, a pensar que se aquelas duas pessoas estavam
ali a beijar-se com o ar mais querido do mundo, minutos depois, ou o amor
existe mesmo, ou o mealheiro dele é bastante grande, ou ela é mesmo boa pessoa,
ou talvez tenha palas nos olhos, ou … ou … ou…
Que triste!
Que eu sou.
Agarrada a uma lata de coca-cola
com as duas mãos, com os olhos postos no fundo do corredor, a pensar em nada, a
sentir nada e ali sozinha a solucionar um final de tarde que em tudo me correu
mal a pensar que merda fizeram aqueles dois a deus para se amarem tanto.
Agarrei nas minhas coisas e
vim-me embora.
E cá vos digo, a vida julgou-me
bem!
Patrícia Luz
26 de Agosto de 2014
A vida julga todos, mais cedo ou mais tarde vais julgar-nos a nós também. Todos teremos a oportunidade de ser felizes, o problema é que muitas vezes essa felicidade chega escondida atrás de uma máscara que não gostamos. Para nós, jovens a beleza é um ponto fulcral, não vivemos sem a beleza, não lidamos com quem não é belo, pelo menos emocionalmente falando.
ResponderEliminarErro.Nosso.
Deveríamos ter a capacidade de alguns de nos interrogar sobre, o que é a beleza? tal como fez o senhor Gulbenkian, e acima de tudo se a beleza que nos dá prazer ao olhar, será a mesma que nos irá dar o prazer sentimental, se a a beleza é suficiente para nos fazer felizes, para sempre. Enquanto não somos vitimas do envelhecimento celular talvez a beleza nos faça feliz, mas depois...
Peço desculpa por vir aqui intrometer-me, mas sigo este blog com alguma atenção, e gosto particularmente da forma como tu expões este tipo de problemas!
Só tu para me fazeres rir e concordar contigo quando tenho de estudar para um exame da merda, só te digo.
ResponderEliminarHá dias assim!! Mas felizmente tu não és de te ficar e aposto que no dia a seguir às 7h30 da matina já estavas a comer o teu ananás pronta para uma corrida matinal :D
Sou novo no teu blog, e embora leia alguns apenas deixo comentário quando, a meus olhos, vejo talento e que a pessoa dá um pouco de si. Pois no fundo é isso que as pessoas que os criam tentam fazer, mas nem todos conseguem.
ResponderEliminarDos textos que li no teu blog (não li todos, são muitos!!), este é para mim o melhor, pois é o mais descritivo, o mais claro, o mais verdadeiro e bastante pessoal.
Tens aqui um novo seguidor, continua!