quarta-feira, agosto 27

a vida julgou-me bem






Não julgue os outros. Quem sabe a vida não o esteja a julgar a si.

Uma hora perdida na sport zone à procura dos calções perfeitos para começar a treinar e apenas dois minutos para me decidir sentar a comer pizza hut. Fantástico. Ainda me hão-de explicar o porquê disto nunca me acontecer com sopas e saladas. Última vez! É a despedida de todas as vezes em que disse que era a última. Porque pelo menos desta já tenho os calções a olhar para mim sobre a mesa. Coisas de mulheres. E se não der certo, lata não nos falta para inventar uma nova ultima vez. Nem que seja com o balança sob os pés.

Nove horas. Vinte uma, aliás.

Depois do azar de sair à pressa do hotel para aproveitar o sol e a paz das dezoito em diante na praia mais próxima e nem um buraquinho ter tido a sorte de arranjar para enfiar a princesa do mónaco, é assim que chamo ao meu carro quando não serve para mais nada a não ser comer gasóleo e pouco mais – aliás foi o nome que um dia lhe deram quando veio parar às minhas mãos, vá-se lá saber porquê (não devem ter calculado o fétiche que as gaivotas têm por ele, presumo) – e lá me ter contentado com a sombra da piscina e uma família a palrear francês dez decibéis acima do normal, foi mesmo ali, no shopping, que fui afogar as minhas mágoas. Sim mágoas. Há coisas piores, eu sei. Mas tudo o que quero muito fazer e não consigo, já é mau o suficiente.

Mas mau, naquele momento, era estar a devorar fatias de pizza, sozinha, com um telemóvel que para além de não ligar o wireless ainda me enviava avisos de bateria fraca. Sozinha a dobrar, portanto. (Já viram como esta última frase é triste?) A enfiar os olhos num televisor ligado para ninguém, bem lá no fundo do corredor, onde não vejo nada, mas presumo que seja futebol, só para o caso de alguém me estar a ver e eu não notar.
Foi mesmo aí que reparei num casal que se encontrava ali ao lado. Ela linda! Loira, elegante, delicada, a comer batata por batata, como as galinhas picam milho; depois ele, cheiinho, para não dizer um pote, porque fica mal, a devorar um prato de esparguete como se não houvesse amanhã, de tal forma que o molho carbonara conheceu todos os cantos do tabuleiro. E depois eu, a pensar que se aquelas duas pessoas estavam ali a beijar-se com o ar mais querido do mundo, minutos depois, ou o amor existe mesmo, ou o mealheiro dele é bastante grande, ou ela é mesmo boa pessoa, ou talvez tenha palas nos olhos, ou … ou … ou…

Que triste!

Que eu sou.

Agarrada a uma lata de coca-cola com as duas mãos, com os olhos postos no fundo do corredor, a pensar em nada, a sentir nada e ali sozinha a solucionar um final de tarde que em tudo me correu mal a pensar que merda fizeram aqueles dois a deus para se amarem tanto.

Agarrei nas minhas coisas e vim-me embora.

E cá vos digo, a vida julgou-me bem!


Patrícia Luz
26 de Agosto de 2014

3 comentários:

  1. A vida julga todos, mais cedo ou mais tarde vais julgar-nos a nós também. Todos teremos a oportunidade de ser felizes, o problema é que muitas vezes essa felicidade chega escondida atrás de uma máscara que não gostamos. Para nós, jovens a beleza é um ponto fulcral, não vivemos sem a beleza, não lidamos com quem não é belo, pelo menos emocionalmente falando.

    Erro.Nosso.

    Deveríamos ter a capacidade de alguns de nos interrogar sobre, o que é a beleza? tal como fez o senhor Gulbenkian, e acima de tudo se a beleza que nos dá prazer ao olhar, será a mesma que nos irá dar o prazer sentimental, se a a beleza é suficiente para nos fazer felizes, para sempre. Enquanto não somos vitimas do envelhecimento celular talvez a beleza nos faça feliz, mas depois...


    Peço desculpa por vir aqui intrometer-me, mas sigo este blog com alguma atenção, e gosto particularmente da forma como tu expões este tipo de problemas!

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  2. Só tu para me fazeres rir e concordar contigo quando tenho de estudar para um exame da merda, só te digo.
    Há dias assim!! Mas felizmente tu não és de te ficar e aposto que no dia a seguir às 7h30 da matina já estavas a comer o teu ananás pronta para uma corrida matinal :D

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  3. Sou novo no teu blog, e embora leia alguns apenas deixo comentário quando, a meus olhos, vejo talento e que a pessoa dá um pouco de si. Pois no fundo é isso que as pessoas que os criam tentam fazer, mas nem todos conseguem.

    Dos textos que li no teu blog (não li todos, são muitos!!), este é para mim o melhor, pois é o mais descritivo, o mais claro, o mais verdadeiro e bastante pessoal.

    Tens aqui um novo seguidor, continua!

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