sexta-feira, agosto 29

Sobre estar solteiro.



Isto não está muito na moda. Com a facilidade de se encontrar alguém com quem partilhar a mesma cama nos dias que correm, quero acreditar que estar solteiro é uma virtude de gente forte. Com carácter. Que se ama a si acima de tudo e de todos.

 Esta coisa de andarmos ai a tentar tropeçar uns nos outros a ver se cola revela muitas coisas sobre a sociedade em que vivemos. Penso muitas vezes sobre a necessidade que as pessoas têm de procurar a bóia de salvação para as suas vidas umas nas outras, quando ainda nem se aventuraram a embarcar naquilo que a vida lhes reservou a sós.

Estar solteiro não é sinónimo de estar sozinho e muito menos de andar desesperadamente à procura de alguém, como oiço muita gente por aí dizer. Estar solteiro é simplesmente estar em paz quando não encontramos a nossa paz em alguém. Porque o amor devia ser isso.

Devia. Aliás, o amor entre duas pessoas é isso. O que há por aí são é muitas pessoas unidas pelo inferno, a que chamam amor para justificar o facto de estarem com alguém. Alguém.

Estar solteiro é a virtude de não estar com alguém. Por isso é que digo que isto é coisa de gente forte e com caracter. Estar solteiro é esperar a pessoa certa, nunca alguém. Alguém é toda a gente. É sair à rua e decidir que esta ou aquela vai ser minha namorada porque tem olhos azuis e todo o mundo a gostava de ter. Ter a pessoa certa, não. Ter a pessoa certa é sair à rua com ela de mão dada para todo o lado com medo que o mundo a roube de nós. E mesmo assim saber que a pode soltar porque ela nunca irá fugir.

Estar solteiro é muitas coisas.

É ir viajar sem data de regresso. É desligar o telemóvel ao sábado à noite e acordar domingo às horas que nos der na real gana. É jantar fora para festejar nada ou qualquer coisa inventada à pressão só para servir de desculpa. Ou só porque sim. Porque solteiro não precisa de desculpas. Estar solteiro é acordar a meio da noite e devorar o frigorífico ou simplesmente fazer um chá e ver a lua nascer da varanda da sala vazia. É sair porta fora sem destino e voltar com a sensação de que fizemos tudo o que quisemos. E se assim não foi, sair de novo sem dar explicações a ninguém. É deitarmo-nos sobre a cama depois de um dia de trabalho e acordarmos no dia seguinte vestidos sem que ninguém nos tenha acordado. É ter amigos do sexo oposto como irmãos sem que ninguém sinta o ciuminho de sempre. É ser meia noite e meia e estar a escrever isto por não ter nada mais interessante para fazer a não ser dormir.

Estar solteiro não é uma doença. Não é uma busca desenfreada por alguém para nos aquecer os pés e nos dar mimos no final do dia.

Estar solteiro é sobretudo amar a nossa vida como ela é. 

Mas lá que de vez em quando adormecemos a pensar nisso,
É verdade.  



Patrícia Luz
29 de Agosto de 2014





                                                            Instagram | Tumblr | Youtube 


6 comentários:

  1. A felicidade é uma virtude.
    É algo que parte de nós e apenas de nós.
    A sociedade agarrou-se e criou a ideia de que a felicidade/alegria cresce e nasce através de outra pessoa, seja pelo sentimento de amizade ou de amor.
    Mas na realidade ela nasce de nós.
    Parte através do bem-estar e da paz encontrada dentro de nós.
    Quem vem depois abraçar essa nossa felicidade e partilhar a deles connosco, não passa de um "extra". O qual nos intensifica o sentimento de alegria e contentamento.
    Nunca devemos depender da ideia de que a felicidade parte de outro, e que devemos esperar que ela caia miraculosamente do céu.
    É lutarmos por nós e ficarmos orgulhosos pelas nossas conquistas.
    O que vier de seguida é abraçar, agradecer e sorrir.
    Ps. Bom tema. Gostei de ler. :)

    ResponderEliminar
  2. Muito bem escrito! Haverá muita gente a identificar-se com as suas palavras! Estive solteira 36 anos da minha vida e hoje sinto "valeu a pena ter esperado"!

    ResponderEliminar
  3. Mais correcto do que isto acho que não conseguia descrever. Obrigado por reforçares aquilo que eu já penso há algum tempo.

    ResponderEliminar
  4. Não descreveria melhor, concordo em pleno. Gostei de ler.

    ResponderEliminar