«És uma miúda esperta
e agora mostras que afinal és mulher e tens um rabo», como se uma coisa
tivesse alguma coisa a ver com a outra; como se não tivéssemos todos o mesmo,
salvo seja. Foi assim a última vez que engoli os sapos e fiz correr tinta sobre
o tema numa das janelinhas do meu chat
com um dos fotógrafos que colecciona rabos como a minha mãe pacotes de açúcar.
E não, não pensem que a analogia foi propositada. (Quase todos os dias ela guarda um diferente.)
A sociedade em que vivemos faz-me rir. Se num dia somos
muito evoluídos e estamos a deixar os estereótipos para trás das costas, noutro
temos todas as bocas do mundo unidas para criticar este e aquele pelo que faz
ou deixa de fazer na tentativa de ir contra aquilo que é aparentemente normal.
É assente nisto que me decidi a escrever. Há
duas coisas que as pessoas precisam distinguir: arte e ordinarice. E apesar de
não parecer à primeira vista, estas são duas palavras que quase podiam dar as
mãos, mas nunca o fazem. E é mesmo aí, entre essas duas linhas paralelas que eu
amo a nudez. No limiar do (in)aceitável.
Que se lixem os preconceitos, os estereótipos e o raio que
os parta. Sou muito liberal quanto à opinião dos outros. É a opinião dos outros.
Apenas. Só a do meu pai conta como se fosse a minha também. Não fosse ele o
melhor dos meus melhores amigos, mesmo quando eu acho que não.
A maldade destas coisas está nos olhos de quem as vê.
Percebi isso no dia em que publiquei uma foto onde me vejo como sou: em casa, de bikini e pé descalço, com o sol a bater-me na cara e o mar ao fundo a reflectir-se nos meus olhos a um sábado de manhã, em que cinquenta por cento das pessoas, no mínimo, apenas conseguiu ver um rabo.
As mulheres são peritas nisto. Não, não é a falar mal da
nudez. É a invejar a nudez das outras. Há uma certa segurança transmitida na
nudez que incomoda muita gente. Especialmente quem não se sente bem consigo
próprio.
Os homens não. São
mais peremptórios. Eles permitem a nudez porque gostam. Mas dizem que não fica
bem porque nem todo o mundo precisava ver aquilo que eles gostavam de ver a
sós.
Mentalizem-se que as pessoas são aquilo que carregam dentro
de si.
E isso, meus amigos, não se vê a olho nu.
Patrícia Luz
8 de Setembro 2014
E já agora, deixo-vos este exemplo disso!
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