segunda-feira, fevereiro 9

clicks

E se pudéssemos escolher gostar de quem gosta de nós?

Tenho um amigo que se pudesse fazia de mim a mulher mais feliz à face da terra. Acredito que todos nós já conhecemos alguém assim. Casava-se e tinha filhos amanhã. Ele reconhece tudo o que efectivamente sou. Fica estático a olhar para a minha boca a mover-se em câmara lenta e a observar o brilho dos meus olhos enquanto falo das mágoas da minha vida como se não fossem minhas. Dou por ele estupidamente parvo a olhar para mim enquanto como, a observar o meu modo desajeitado de pegar nos talheres quando não me sinto à vontade.  Ele conhece-me há pouco tempo e é como se me conhecesse há anos. Diz que falo com os olhos. E que sou suficientemente inteligente para não me querer levar para a cama de todas as vezes que me vê. Ainda que fosse esse o seu desejo. Apesar de nunca o conseguir.
Que sou osso duro de roer. E que isso inquieta os Homens como ele.
Já me ouviu durante algumas horas e falou-me da vida dele durante outras tantas. Acho que se estivéssemos ao telefone durante um ano, teríamos conversa para pelo menos mais três. Fizemos os programas mais improváveis juntos, alguns dignos de livro e nunca passou disso porque há amizades que nasceram para ser somente isso. 
Ele sabe quando estou triste. Envia-me mensagens aleatórias a desejar bom trabalho pela manhã e liga-me no final da noite para saber se estou bem, como correu o dia, o que vou jantar ou apenas para avisar que vai dormir. Estamos dias sem falar e meses sem nos ver. Ele liga-me para me falar de mulheres que o inquietam; de como tem saudades delas. E para me dizer pelo meio que se tivesse alguém como eu, daria este mundo e o outro para cuidar dela. 
Nós temos uma relação de amizade pura, mas estranha ao mesmo tempo, por não ser de igual para igual, ainda que o seja simultaneamente. 

Ele diz que sou diferente de todas as raparigas que já conheceu. E por saber que não me vai ter, deseja-me o melhor homem que imagina na cabeça dele.
Há dias ligou-me. 
Ligou-me para me dizer que me vê com alguém à altura. Um Homem a sério. De negócios, vestido a rigor, capaz de me passear para todo o lado de mão dada sem nunca a querer largar. Porque um Homem a sério vai saber dar-me valor e nunca me vai querer deixar fugir. Porque pessoas como eu, dizia ele, não se encontram ao virar da esquina.

No dia em que esse Homem me encontrar espero gostar dele o suficiente para ficar na minha vida, respondi-lhe. 
Nesse dia conto-to-te como é difícil não podermos gostar de quem gosta de nós e como estalar os dedos para que nos desse o click dava imenso jeito em muitas alturas da nossa vida. 

Patrícia Luz
9 de Fevereiro 2015 


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1 comentário:

  1. Identifico-me completamente com o que dizes e com o que o teu amigo diz, parece que as pessoas certas não foram feitas para estarem juntas...

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