quinta-feira, maio 21

Coisas que não me vou esquecer I

Ao som de Não me perco.

Não sei precisar o dia. Lembro-me de ti vestido a rigor, de bloco de notas e caneta na mão. 
Estava calor. O sol encandeava-nos enquanto percorríamos a rua em passo apressado para aquele que era o último encontro do dia, perdidos entre os números das portas, o nome das ruas e as picardias em tom inteligente, cujas entrelinhas diziam muito mais do que realmente pareciam querer dizer.

Atrasados na hora, perdidos no tempo. 

Foram raras as vezes em que me acompanhaste, mas nunca me esquecerei desse dia. Nunca me esquecerei de ti sentado ao computador, com a cabeça no que ias fazer a seguir. A despachar tudo à pressa para não perderes o comboio da minha vida. Como era rápido o comboio da minha vida... não é? 

Lembro-me do teu sorriso naquele elevador antigo minúsculo onde nos enfiaram no final da tarde. Lembro-me especialmente de não saber onde enfiar os olhos. Descobri que a claustrofobia me atacava de vez em quando.
«- Este elevador é daqueles que têm o stop», brincava. Sorriamos em tom alto. Mal eu sabia que stop era o que devia ter feito ao tempo naquele momento. 

O cheiro a croissants no ar, matou-nos a fome. As crianças felizes transportam-se para o nosso corpo de vez em quando. 

O sol baixava. Os dias ficavam maiores. 
Em tom pachorrento descartava-te da minha vida sempre que podia. Convencias-me sempre do contrário. Porque eu deixava. Porque não era o que eu queria. Ainda que fosse...
Não queria gostar de ti. Não queria sentir-me bem contigo. Não queria habituar-me ao que mais me fazia falta. Tu, alguém como tu. 

Não me vou esquecer das pessoas a correr no parque. Nem da tua mão no meu cabelo. 
Aquilo que menos queremos que aconteça é o que mais nos fere a memória quando as lembranças passam a saudade. E quando me tocavas no cabelo o meu corpo estremecia dos pés à cabeça e os meus olhos fechavam em câmara lenta sem que te apercebesses. 

Quando subimos os degraus do anfiteatro ... 

O medo aperta quando a incerteza nos consome. Ter-te ali sentado, só comigo, com a melhor vista da cidade diante dos nossos olhos, aquecidos pelo meu sol favorito do dia, sem minutos e sem horas, e sem palavras, e sem tempo... fez-me ligar um fio invisível ao teu coração, não por seres tu, nem por me teres levado até lá, mas por seres a minha paz, o meu abraço fechado sem que tivesse sido preciso enrolares-me nos teus braços, naquele momento. Naquele pedaço de vida. 

Serei para sempre muito melhor a escrever sobre o amor do que a amar. 
E este será para sempre o dia em que me apaixonei por ti, ainda que o não soubesse. 

Pudesse tudo voltar atrás. 
Pudesse parar para sempre o tempo lá. Onde sorriamos em tom alto.

Patrícia Luz
21 de Maio de 2015 



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