domingo, julho 12

O autocarro seguiu. A vida também segue.


Com os pés sobre o banco e os braços circundando os joelhos, encostava de lado a cabeça no autocarro. Ia cheio e por isso as vozes cruzavam-se nas minhas costas em tom alto, algumas sorridentes, outras um pouco embriagadas pelo bar aberto da tarde. De olhos postos no horizonte, ninguém deu pela minha ausência.
É hora de regressar. O sol baixava a pouco e pouco. Luzia por entre os ramos das àrvores que corriam à velocidade de cem quilómetros hora, enquanto consumiamos a auto-estrada no norte. Os pássaros esvoaçavam na penumbra seguindo o seu rumo e eu, lá ia, a ver a vida correr diante dos meus olhos.
Anestesiada. Anestesiada pela incerteza, pela saudade, pelas memórias. Pelos momentos que me roubam horas. Pelas horas em que queria os momentos de volta todos os minutos. Os olhos brilham. Cristalizam encadeados pelo sol que se põe. Reflectem o céu em tons azuis e rosa, que cuida de mim nas horas vazias; que vê as lágrimas que escorrem em silêncio da alma que dá demasiados ouvidos ao que o meu coração sente. 

O telefone tocou: «Não é homem o suficiente para te merecer». 
O autocarro seguiu. A vida também segue.

Patrícia Luz
12 de Julho 2015
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