sexta-feira, julho 8

Portugal(zinho)

Quero escrever sobre o meu país. Do quanto me faz ter o coração apertado para o bem e para o mal, do quanto me orgulha e do quanto me entristesse.

Há dias em que o melhor do mundo está aqui debaixo dos meus pés e por isso não anseio nada mais do que isto, há outros, em que as lágrimas me escorrem cara a fora só de ver o inferno da vida de algumas pessoas que me rodeiam sem que elas mesmas se apercebam.

Somos assim. Um povo teatral que se habituou a encarnar várias personagens só para não ter o dedo do outro apontado à cara. Nunca estamos bem. Passamos de bestiais a bestas como quem muda de cuecas. Mas o que interessa é sorrir. Se sorrirmos está tudo bem.O cão ladra e a caravana passa e seja o que deus quiser.

Seja o que Deus quiser uma merda.

Quero falar mal do meu país porque o amo. Quero falar mal das pessoas porque se conformam. Quero falar mal da política e da educação, porque é aqui que está o cerne de um país que tinha tudo para dar certo e anda torto.

Quero falar dos milhões investidos para arear uma praia em Lagos com o objetivo de receber mais turistas, quando não aumentamos um aeroporto por falta de verbas. Sendo que a areia se foi e os turistas não voltaram. Do emprego que se nega a uma grande percentagem de portugueses qualificados por não saberem falar inglês, trocando-os por ucranianos que dominam dez linguas e estão ilegais. Quero falar do ordenado minimo que alimenta seis bocas menores à mesa enquanto o estado investe em estádios de futebol  que apodrecem por falta de uso.

Quero falar da fruta - e de todas as tretas deste género -, que quando é nossa não presta. Mas quando vai a Espanha e volta já é a melhor do mundo. 

Quero falar do Algarve que trabalha quatro meses do ano com trabalho escravo de borla a que decidiram chamar formação profissional oferecida a estagiários das mais diversas partes do país. Da calamidade que é recebermos bruta-montes, perdoem-me a expressão, que nos mijam em cima sem que nos possamos recusar a recebê-los porque o pão de cada dia de um ano está dependente de como correm estes miseros quatro meses.
  
Quero falar das pessoas. Da educação que não tem.

Dos valores. Que são raros...

Caramba Portugal, gosto tanto de ti, porra.



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