quarta-feira, setembro 12

Primeiro dia de Aulas | Quem se lembra?

Tinha cinco anos, palmo e meio de altura. Menos de metade dos dentes e o cabelo cortado à menino, porque, diz o meu pai, fui eu que quis assim por solidariedade com o meu irmão, que não gostava lá muito de cortar o cabelo nas férias de verão. Não me lembro ao certo disto, mas lembro-me de ser feia como o raio. 

Se me perguntarem acerca dos últimos dias de férias antes de se dar inicio a jornada de estudante até ao que me tornei hoje, talvez  eu me lembre melhor e vos possa dizer como era divertido fazer asneiras no pátio da casa dos nossos avós. Porque depois disso, tudo foi uma correria entre férias e não-férias. 

Começou desde então a existir uma cronologia na nossa existência.  

 1º ano, 2º ano, turma do 5ºC, 10ºD. Os amigos daquele ano. Os do ano seguinte. Quando andava na escola de Pataias, quando afinal a da Penha é que era. Mas quem se pode esquecer da "Nova" ou dos tempos de Liceu? E a faculdade?

Antes dos cinco anos como se contabilizava o tempo? Pelas festinhas de aniversário na casa uns dos outros? Só pode.  

Com cinco anos eu entrei para a escola primária de Pataias e lembro-me como se fosse hoje, apesar de não recordar grandes pormenores. Tirando a Carolina, era talvez a mais nova da turma, como sempre fui, até à conclusão dos meus estudos. Um bebé atirado à vida. 

Como referi, não me lembro de muita coisa, mas lembro-me que não chorei. A minha primeira professora chamava-se Lurdes e era muito gordinha, tinha os cabelos curtos encaracolados e era muito querida. Quão lhe posso agradecer por hoje saber ler e escrever estas letrinhas que, juntas, formam palavras com algum significado. 

Lembro-me muito bem do Duarte. Com aquele ar reguila de pião de madeira que o pai lhe fizera debaixo do braço. Da Melissa que era a mais bonita da escola e da Jéssica, a minha melhor amiga desde o berço, quase. Da Vilma, a nazarena a quem roubava bolicãos e filipinos no ATL, do João a quem dava beijinhos na boca às escondidas nas traseiras da escola, do Flávio que era o vizinho da minha rua, da Vera que era a melhor aluna, do Hugo porque faziamos o mesmo caminho para a escola, da Carina, da Andreia, da Susana, do Nuno.... enfim! Acho que é impossível esquecer os nossos parceiros do abecedário e contagem crescente até cem, certo? 

Já nos conheciamos, a maioria, das aventuras do infantário. Das corridas de pneus ou dos carnavais vestidos de batmans e cinderelas,por isso, o primeiro dia de aulas não foi um choque. 

Lembro-me de estar entusiasmada por finalmente ir ter canetas e lápis novos. E de quando foi o momento de escolher o lugar na sala de aula, com os pais todos de pé ao fundo mais alarmados com a situação do que nós próprios! Lembro-me da mãe da Melissa de lágrima no canto do olho (ehehe). 

Lembro-me do abecedário colado na parede, com imagens de objectos a exemplificar cada letrinha. 
A - Abelha,
B - Boneco,
C - Cão,
D- Dado, 
E - Égua, 
F - Foca 

.... quem não? 

Lembro-me de acreditar que ia finalmente poder ensinar a minha avó a escrever bem o seu nome e a ler. 

Tantos sonhos. 
Tanta vida começou ali, naquele dia de Setembro de 1997. 

Quem mais se lembra do seu primeiro dia de aulas?  

Patrícia Luz
11 de Setembro de 2018



segunda-feira, setembro 10

A Educação Comodista

Hoje volto às palavras. 


Alguns vão criticar-me depois de ler o que vou escrever, outros vão estalar o canto da boca e bradar aos céus "deixa chegar a tua vez, que logo vemos como é". Mas neste momento é a minha opinião e porque sou livre de a dar num espaço que ainda é meu, eu vou fazê-lo. No dia em que mudar de opinião também sou Mulher de me ajoelhar e admiti-lo. Agora não!

 Sou aquela pessoa que gosta de passear e ocupar o meu tempo sozinha. Faço mesmo muitas coisas sozinha. Vou à praia numa boa, faço snorkeling de vez em quando, vou ao shopping e até prefiro assim, vou áquele restaurante que quero mesmo experimentar e, que, por sinal não houve ninguém com a mesma vontade que eu naquele dia (ou mesmo, porque me aborrece ir com "alguém": uma pessoa que não é aquela que eu quero que vá efectivamente comigo àquele lugar - não sei se já vos aconteceu ou se sou a única pessoa estranha neste mundo a gostar de partilhar sitios específicos com pessoas específicas), enfim, já cheguei a ir sair à noite sozinha até, porque verdade seja dita nunca estamos sós. E na maior parte das vezes até se torna divertido. 

É essencialmente por isso acontecer que me tornei uma pessoa bastante observadora de tudo o que está à minha volta. 

É facto, que quando estamos a jantar com alguém, por exemplo, temos algo suficientemente interessante para nos ocupar as atenções: com quem falar, para quem olhar, em quem tocar, sobre o que rir. Mas quando estamos a sós, tudo é exterior à bolha da nossa existência naquele momento, naquele local, àquela hora... e por isso mesmo, a não ser que sejamos um ser macambúzio e desinteressado por natureza, tudo o resto, passa a ser o nosso foco. 

Tenho, por isso, reparado na educação comodista dos dias de hoje e quero falar dela. Primeiro porque me entristece na medida em que estamos a formar o futuro e, depois, porque assusta-me ter que vir a viver assim: com mesas compostas de famílias que se reunem em silêncio por trás do ecrã dos telemóveis. Não há gritos! Não há chatices! Não há um diálogo! Os irmãos já não roubam batatas fritas uns aos outros, porque nem despegam do telefone para olhar para o prato do lado!?! Como assim? Ninguém sabe nada de ninguém?! Ninguém está verdadeiramente ali. Ninguém está a valorizar aquele momento fantástico que é o de terem todos os seus familiares sentados à mesma mesa? 

Crianças com três anos de idade, ou menos, comem a olhar para um tablet. Porquê?
«Ah porque se não for assim ele não come!» - Como assim, não come? Não se comia antigamente, nesta vida? 

«Porque é a forma de o ter sossegado!» - As crianças não nasceram para serem peluches de estimação! 

«Porque se não for assim, não conseguimos jantar sossegados com os nossos amigos.» - Então mas... quando se deitaram naquele dia de amor louco, não se lembraram que os jantares com os amigos nunca mais seriam os mesmos? 

Antigamente não era assim. Porque é que agora é? 

Logicamente porque a civilização evolui (nem sempre para um pólo extremamente positivo, convenhamos) e temos que nos adaptar. Ok! Então mas e.. temos mesmo que nos adaptar a algo que destrói a educação das normas de conduta em sociedade? A educação do bê à bá da vida? 

Na minha opinião não. 

Na minha opinião estamos a assistir a uma educação comodista de pais que não se querem dar ao trabalho. Que não se querem chatear. Que estão nem aí para se chatear. Que querem ter filhos e ter paz e sossego. Onde é que está a lógica?

Continuamos a criar pequenos monstrinhos de laboratório que nunca saberão o gosto amargo de um NÃO! Que nunca conhecerão o significado de um olhar durão - porque nem tão pouco tiram os olhos dos ecrãs para olhar para os pais. Que em poucos anos, estarão - como alguns até já fazem - a dar ordens aos pais. A fazer exigências. 

Há excepções? Claro que há. Há pais que regram as coisas! E não limitam o avançar da civilização aos seus filhos. Mas nada como ter conta-peso-e-medida. Porque até nisso é possivel a educação ter um papel activo. E a esses eu tiro o chapéu! 

Mas... e o resto? 

Sento-me nessas mesas muitas vezes sozinha a observar estas familias modernas, tão grandes e tão sós, tão avançadas tecnologicamente mas tão vazias do que realmente importa e penso o quão bom é viver na minha bolha. Mas quão triste é querer ter a minha família sentada à minha mesa e não ter. 

Há vinte cinco anos atrás, formar Homens para o bê à bá da vida era tarefa honrosa, para aqueles que a faziam bem. Hoje, esperemos que o google ensine.  

Beijinhos,  
Pat
10 de Setembro 2019




domingo, setembro 9

Ainda sobre a Feira Medieval de Castro Marim


Quem é que por aí já foi a uma feira medieval? 

Há algum tempo que queria ir a uma e meti na cabeça que deste ano não passava. 
Sempre tive uma grande curiosidade de como seria viver na idade média e poder recuar uns anos na história, vivenciar e voltar a esta época na primeira pessoa, foi uma experiência muito gira que quero partilhar convosco.

Castro Marim é uma vila raiana que toda agente devia conhecer. A sua imagem transmite história assim que a vemos no horizonte, por isso imaginem em plenos dias medievais. 



Depois de um pulinho a Espanha num final de tarde de Agosto, foi assim que fomos recebidas: um final de tarde abrasador, com um pôr de sol estrondoso no horizonte e os castelos impunes como fundo deste quadro que poucas palavras mais precisa. 

 Centenas de figurantes vestidos a rigor compunham este quadro vivo feito de cartomantes de olhar sedutor, equilibristas em andarilhas gigantescas, encantadores de serpentes, cuspidores de fogo, lutadores, artistas de esgrima, verdadeiros cavaleiros, comerciantes da história antiga, falcões e abutres.

 As músicas mediavais ecoavam nas ruas e paredes de pedra, trazendo um misto de mistério com alegria, àquela animação que presenciávamos de forma tão mágica.




Como se não bastasse, crescia a lua cheia no horizonte. 
O elemento chave que faltava para fazer este cenário mais do que perfeito. 

De repente, sentimos ter abandonado as tecnologias, as vestes actuais, o século XXI, as mordomias que fazem da nossa vivência actual algo mais confortável e voltámos ao antigamente, aos copos de barro, às comidas sem faca e garfo, às mesas de madeira, ao chão de terra. 



As lutas a cavalo foram o palco da animação norturna. 
Como nós estamos longe hoje de imaginar que antigamente as coisas aconteciam mesmo assim, não é? 

Fascina-me esta forma de viver. Como em alguns anos tanta coisa mudou! 
Conhecer a nossa história, os nossos antepassados, as nossas vivências, a forma como chegámos até aos dias de hoje, enriquece a minha cultura e ajuda-me a valorizar aquilo que tenho, de onde vim e para onde vou.

Considero este evento de extrema importância para crianças que frequentam a escolaridade primária e uma óptima oportunidade para também elas se apaixonarem pela história que os trouxe até aqui. Além de educativa é, sem dúvida, um palco de magia para os mais pequenos, aqueles que ainda acreditam nos cavaleiros espadaúdos e nas pequenas bruxas que lêem o futuro nas mãos.  

Espero poder levar lá os meus filhos, quando os tiver (risos). 






Não podia sair daqui sem vos dizer como sou louca por estas banquinhas de bijuteria, pedras e coisas que tais!!! Roupas em croché, trapos inventados com restos de tecidos . Saias assimétricas e colares de prata. wow!

E estas luzes? Lá estou eu a bater nesta coisa da luz. Mas há luzes que criam ambientes que me deixam extremamente feliz! E que me transmitem sentimentos inspiradores. 

Quem é que para o ano não vai deixar escapar uma feira medieval? 

Eu espero poder voltar!

Um beijinho grande, 
Pat
9 de Setembro 2018

quinta-feira, setembro 6

Ilha do Farol | Ponha aqui o seu pezinho




(Estou a dever-vos isto há uma vida, eu sei. Mas a correria entre o Algarve e Lisboa, as vicissitudes da vida e o verão a fugir-nos a passos largos, não me tem deixado parar. E sabem que eu gosto de parar, de facto, quando é para fazer o que amo. Explicações dadas, aqui vai. ) 



Ilha do Farol. 
Quem não foi, que se sente aí para viajar comigo. 
Quem já foi, volte para lá, rápido e poupe o tempo desta leitura, pois nada do que possa escrever a seguir se assemelha a tudo o que se sente lá. 

Desde há dezassete anos atrás, altura em que vim viver para o Algarve, que a Ilha do Farol é a minha favorita das conhecidas ilhas barreira da Ria Formosa. Das habitáveis, claro. Isto porque há outros recantos por aí perdidos que são a maior paz do universo e, que, por agora, vou querer continuar a guardar só para mim e para aqueles que igualmente os conhecem. 


Ir à Ilha do Farol é como viajar para uma ilha paradisíaca em quarenta e cinco minutos e esquecer tudo o que ficou para trás. 
A paz das ruas floridas por onde apenas se caminha a pé ou se circula de bicicleta, faz-nos querer que ali é verão o ano inteiro. O cheiro a maresia trazido pela aragem quente do vento levante, não deixa ninguém sair de lá sem a alma limpa o suficiente para encarar tudo o que deixou para trás, lá no cais onde embarcou. 

Ouvem-se os pássaros, na areia circulam abelhas e cheira a peixe grelhado nos almoços das casas preenchidas. Cheira também à inveja saudável de todos aqueles que estão de visita e não têm uma varandinha para grelhar o seu peixe também, ali. Ouvem-se bocas a bradar aos céus o seu cantinho ali também.


O farol, são os finais de tarde infindáveis, com água quente e galhofa sem fim com os amigos de uma vida. É surfar umas ondas de calções. É colocar em cima de uma prancha uma criança que nunca curtiu uma onda e ver a sua felicidade quando consegue chegar à areia. 

São as visitas dos golfinhos, por vezes, no horizonte. E os pores de sol mais luminosos nos pontões que guardam segredos. 

O farol, são os mergulhos de última hora no pontão dos barcos. São os namoros a que se deram origem depois daquele empurrão inesperado para dentro de água. São os risos insurdecedores e inesqueciveis de cada verão. São as pessoas. As de lá, as que viajam para lá, as que passam temporadas lá. 



É a água translúcida. As conchas à beira mar a rebolar. 

São os cocktails do "Maramais". É o peixe grelhado do Restaurante "À do João"! As cores das paredes. A boa vibe!! 

É a pesca submarina. É ter os pés encardidos de tanto andar descalço. É não conhecer outra roupa senão o bikini ou calção de banho durante a permanência lá. São as amizades, é o calor, são as cores dos corpos bronzeados e ar dos cabelos salgados.  



E apesar de tudo, é o farol. Eu sou suspeita, porque eu adoro faróis. Mas este é especial. Ele dá um encanto especial à vista e à vida. Ele acaba por iluminar os dias também, mesmo que guarde a luz dentro dele. 

Quanto às noites, eu deixo em segredo. Cada uma tem o seu. 

Contem-me!! O que mais sentem quando vão ao Farol? 
E quem nunca foi, de que está à espera? 

Beijinhos e até breve!! 

Patrícia Luz 
6 de Setembro 2018