Tinha cinco anos, palmo e meio de altura. Menos de metade dos dentes e o cabelo cortado à menino, porque, diz o meu pai, fui eu que quis assim por solidariedade com o meu irmão, que não gostava lá muito de cortar o cabelo nas férias de verão. Não me lembro ao certo disto, mas lembro-me de ser feia como o raio.
Se me perguntarem acerca dos últimos dias de férias antes de se dar inicio a jornada de estudante até ao que me tornei hoje, talvez eu me lembre melhor e vos possa dizer como era divertido fazer asneiras no pátio da casa dos nossos avós. Porque depois disso, tudo foi uma correria entre férias e não-férias.
Começou desde então a existir uma cronologia na nossa existência.
1º ano, 2º ano, turma do 5ºC, 10ºD. Os amigos daquele ano. Os do ano seguinte. Quando andava na escola de Pataias, quando afinal a da Penha é que era. Mas quem se pode esquecer da "Nova" ou dos tempos de Liceu? E a faculdade?
Antes dos cinco anos como se contabilizava o tempo? Pelas festinhas de aniversário na casa uns dos outros? Só pode.
Com cinco anos eu entrei para a escola primária de Pataias e lembro-me como se fosse hoje, apesar de não recordar grandes pormenores. Tirando a Carolina, era talvez a mais nova da turma, como sempre fui, até à conclusão dos meus estudos. Um bebé atirado à vida.
Como referi, não me lembro de muita coisa, mas lembro-me que não chorei. A minha primeira professora chamava-se Lurdes e era muito gordinha, tinha os cabelos curtos encaracolados e era muito querida. Quão lhe posso agradecer por hoje saber ler e escrever estas letrinhas que, juntas, formam palavras com algum significado.
Lembro-me muito bem do Duarte. Com aquele ar reguila de pião de madeira que o pai lhe fizera debaixo do braço. Da Melissa que era a mais bonita da escola e da Jéssica, a minha melhor amiga desde o berço, quase. Da Vilma, a nazarena a quem roubava bolicãos e filipinos no ATL, do João a quem dava beijinhos na boca às escondidas nas traseiras da escola, do Flávio que era o vizinho da minha rua, da Vera que era a melhor aluna, do Hugo porque faziamos o mesmo caminho para a escola, da Carina, da Andreia, da Susana, do Nuno.... enfim! Acho que é impossível esquecer os nossos parceiros do abecedário e contagem crescente até cem, certo?
Já nos conheciamos, a maioria, das aventuras do infantário. Das corridas de pneus ou dos carnavais vestidos de batmans e cinderelas,por isso, o primeiro dia de aulas não foi um choque.
Lembro-me de estar entusiasmada por finalmente ir ter canetas e lápis novos. E de quando foi o momento de escolher o lugar na sala de aula, com os pais todos de pé ao fundo mais alarmados com a situação do que nós próprios! Lembro-me da mãe da Melissa de lágrima no canto do olho (ehehe).
Lembro-me do abecedário colado na parede, com imagens de objectos a exemplificar cada letrinha.
A - Abelha,
B - Boneco,
C - Cão,
D- Dado,
E - Égua,
F - Foca
.... quem não?
Lembro-me de acreditar que ia finalmente poder ensinar a minha avó a escrever bem o seu nome e a ler.
Tantos sonhos.
Tanta vida começou ali, naquele dia de Setembro de 1997.
Quem mais se lembra do seu primeiro dia de aulas?
Patrícia Luz
11 de Setembro de 2018