quarta-feira, agosto 14

Vale Furado | Passei uma semana de férias sozinha e valeu ouro!


Férias é sínónimo de rumar a Casa. Seja ela qual fôr. 
Mas férias de Verão sem vir a este cantinho do Oeste, não são a mesma coisa. 

Viver no Algarve é uma benção. Neste momento eu não trocaria esse lugar por nenhum para viver. Mas quando a campainha das férias toca, a minha cabeça só pensa em voar para aqui: para este bocadinho de terra à beira mar plantado que vos trago hoje ao meu blogue.

Fugir das praias sem lugar para estacionar - quer o carro, quer a toalha -, dos supermercados lotados, do trânsito da nacional 125 e das pessoas mal educadas que por estarem de férias sofrem do síndrome do quero-posso-e-mando, de entre tantas outras, é necessário. Especialmente para quem ama o Algarve de verdade e conhece a sua essência, que está longe de ser aquilo que é no mês de Agosto.

E é por isso que quando toda a gente ruma à procura do seu lugar ao sol por lá, eu sou a primeira a fugir para o meu porto de abrigo, que é este aqui: VALE FURADO

Fugir para aqui dá-me direito a parar o carro durante uma semana porque posso ir a pé para a praia, a não precisar de mais nada para vestir a não ser um bikini, uns calções e uma sweat bem quentinha para as noites que são quase sempre frias e húmidas, a desligar-me por completo do que se passa no mundo, porque apesar do sinal da tv já estar bem melhor do que há uns anos atrás.. fizémos questão de não ter tv por cá e, melhor que isso, dá direito a nem precisar de música porque temos como barulho de fundo o melhor barrulho do mundo: o mar. 

Se poderia ir para 1001 outros sitios? Claro que podia. Mas há lugares que têm cheiros que mais nenhum tem, há sabores que só saboreados aqui, há noites de sono que só são bem dormidas aqui.
Vá-se lá agora entender :)









Poderia ter feito vários planos. Inicialmente até tinha alguns. 
Mas dei por mim a perguntar-me o que realmente desejava para esta minha semana de férias e automaticamente disse para mim mesma que o que mais desejava era contentar-me com o mais simples da vida, o essencial. 

Para mim resumia-se a muito pouca coisa: paz na alma, o mar ao virar da esquina, o sol para me injectar vitamina D já que as minhas últimas análises clínicas assim mo recomendam, as minhas pessoas do coração por perto, comida boa e a liberdade de fazer o que me apetecer, mesmo que isso se resuma a nada. Sem horas. Sem obrigações. Sem qualquer tipo de pressão. 

Quando eu digo sem qualquer tipo de pressão é mesmo isso que quero dizer. 

Comuniquei-o à minha mãe. Disse-lhe que queria ir para esta casa sozinha e viver umas férias como me desse na real gana. Chamou-me louca por outras palavras e questionou-me inúmeras vezes se não tinha medo de estar lá sozinha. Fomos às compras juntas e lá fui eu. 

Parece egoísta. Mas tem tanto de egoísta como de brutal. 


Que nunca me falte a coragem de estar sozinha.

- Que nunca me falte a coragem de estar sozinha, mãe. 
Deveria ter sido a minha resposta.Mas não foi, porque ela sabe a porção de coragem que colocou em mim.

De frigorífico recheado de tudo o que mais gosto de comer, com uma casinha singela virada para o mar só para mim, as quatro estações do ano numa só semana e a praia debaixo dos meus pés, ah! não podia pedir mais nada. A não ser a visita do meu avô para o almoço, que rezo por ter em todos os próximos anos de férias.

Não há nada de errado nisto.
Não há nada de errado em querermos passar tempo connosco. Não há nada de errado em passarmos férias sozinhos. Em irmos à praia, cozinharmos só para nós, fazermos um gin ou um jarro de sangria porque nos apetece. Não há nada de errado em dormirmos sozinhos, em lermos um livro durante horas, acordarmos às duas da tarde ou deitarmo-nos às cinco da manhã se for isso que nos apetece fazer. Não há nada de errado em lavarmos a loiça amanhã porque não nos apetece hoje ou jantarmos com a mesa preenchida só por nós mesmos.
É ok ver o nascer do sol. É maravilhoso contemplarmos o pôr do sol para nós mesmos. 

Estar sozinho não é sinónimo de se passar algo errado. Não é sinónimo de estarmos sós. Não é sinónimo de não termos mais ninguém, ou da nossa mente não estar organizada. 
Muito pelo contrário. 
Estar sozinho é um poder do caraças, que só pessoas que se amam de verdade, sabem valorizar.

E o que eu tenho a dizer é que foi das melhores semanas de férias que já tive.





Aqui acordo quase sempre com o grasnar das gaivotas. 
Habitualmente ficam em terra de manhã porque raro é o dia aqui que não amanhece com um nevoeiro cerrado. Poucos saberão o sabor de levantar da cama, abrir a porta e sentir o mistério desse nevoeiro no ar que nos obriga a voltar ao quentinho do edredon para mais um pouco de ronha enquanto o sol não aparece. 
Assim que ele venha, é automático vestir o bikini, comer a primeira coisa que nos aparecer à frente e rumar à praia.  

Aqui as cores variam ao longo do dia. 
Manhãs cinzentas. Tardes coloridas. Pores do Sol dourados e sem igual. 
Às vezes temos surpresas agradáveis. Mas por norma é o que acontece. Refiro-me ao sol aparecer mais cedo. Quando assim é, a rotina deixa de ser voltar para a cama, para passar a fazer dela a relva do jardim. 

O som.... bem! o som...
Todos sabem que o mar para estes lados tem a sua vida própria, que é como quem diz que as ondas gostam de respirar alto e bom som. Não poderia sentir-me mais lisonjeada em poder ouvi-las 24 sobre 24 horas. Especialmente quando me deito e elas sussurram no parapeito da janela do quarto. 
Não há terapia melhor. Mesmo para quem não precisa dela.



E porque nada melhor para ganhar apetite para o almoço, que tal um rolezinho pelas (poucas) ruas alcatroadas lá do sitio? 

Não sou pró a andar de skate, não julguem. Mas que eu adoro isto, é verdade. Trouxe-o comigo para passar férias. Acho que depois disto já não posso afirmar que passei férias sozinha (risos).


Se esta praia pudesse contar segredos, havia algumas páginas para serem escritas.
É a minha praia favorita do Oeste. Há 26 anos que faz parte da minha vida. Mais não seja, dos meus músculos - pouco desenvolvidos - das pernas, já que subir e descer esta encosta requer uma barriguinha bem alimentada e energias renovadas. É o verdadeiro ginásio de verão! O que, convinhamos, também se recomenda. 

É regularmente tema de conversa entre moradores o quão seria fantástico umas escadinhas rolantes. Mas esqueçam lá isso. Porque quero continuar a ter espaço para estender a minha toalha XXL. 

Não. Não vão encontrar água quentinha como na banheira e qualquer parecença com a temperatura das águas do sul, é pura alucinação. No pior dos cenários poderão dar-se por contentes por poderem molhar os pés. Esta praia tem correntes fortes e é num ápice que se podem encontrar a uma milha da costa.... mas não há razão para alarme, porque para quem não perceber nada disso, pode sempre refrescar-se na cascata de água doce mais próxima.

Ah! E nos dias mais ventosos, que são prai 80% dos dias na costa do Oeste, poderão estar descansados, pois não precisam de carregar o pára vento e muito menos comerão areia para o ajudar a carregar de volta.  O mais que pode acontecer é mesmo morrerem assados, porque excepto quando o vento se faz sentir do mar, não há brisa que tenha licença para entrar nesta praia.

É frequente verem acampamentos de pessoas. Não se assustem. 
É que a maioria das pessoas aqui conhece-se. E até partilha aquele melãozinho à hora do lanche :) 

É o melhor sitio que podia escolher para fugir do Algarve. É o meu porto de abrigo do verão.

Sejam bem-vindos. Mas não digam a ninguém onde fica.
Há segredos só nossos.

Um beijo,
Pat







1 comentário:

  1. Acho que já te tinha dito antes.. acho incrível o que fizeste e eu quero muito um dia fazer essa experiência. Eu, exceptuando quando a minha mente teima em fazer pensar em coisas que me deixam triste, adoro estar na minha própria companhia.

    É algo que tenho vindo a aprender e eu sei que não é para toda a gente porque há pessoas que não gostam de estar solitárias/consigo próprias. A mim, faz-me entender e conhecer melhor quem é a Mariana, dos seus gostos e sentimentos e coisas assim.

    Um momento que me lembro e que percebi que é incrível estar comigo própria e apreciar-me ainda mais foi, no ano passado, quando estava no Porto, durante 3 dias, com a minha mãe e padrasto e eles ficaram num apartamento diferente do meu e em zonas diferentes. No primeiro dia e segundo tinha alguns planos com o meu melhor amigo e namorada dele mas no último dia eu acordei cedo e tinha a praia de Matosinhos a pouquissimos minutos de onde estava. Pensei "já tomei o pequeno almoço, acho que vou passear para a praia!". E assim foi! Fui acompanhada pela minha música e tive sorte por estar maré baixa - logo, a praia era ENORME - e liguei aos meus avós a partir dali (estava também na terra do meu avô <3), sentei-me a ouvir o mar e a ouvir a música e tirei umas selfies e fotografias ao mar e à paisagem. Eu olho para essas fotografias e recordo-me que foi dos dias mais felizes da minha vida e as pessoas podem pensar que sou parva mas a verdade é que - e isto pode soar meio lunático ou assim - eu senti q estava no caminho certo. E lembro-me, pelas fotos e pelo dia em si, o quão significante e bom foi estar comigo mesma, sozinha e a gozar daquele momento.

    Claro que não é nada comparado com as tuas férias durante alguns dias sozinha mas... serve isto tudo para dizer que compreendo-te perfeitamente. E acrescento que esta aprendizagem de saber estar sozinha e de bem comigo própria é longa e ainda estou no início, mas para quem é filha única de pais separados e com umas situações meio manhosas pelo meio, sinto que conquistei algo incrível só naquele dia.

    Desculpa o longo (!) testamento.

    Um beijinho,

    Mariana.

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