Isto não está muito na moda. Com
a facilidade de se encontrar alguém com quem partilhar a mesma cama nos dias
que correm, quero acreditar que estar solteiro é uma virtude de gente forte.
Com carácter. Que se ama a si acima de tudo e de todos.
Esta coisa de andarmos ai a tentar tropeçar
uns nos outros a ver se cola revela muitas coisas sobre a sociedade em que
vivemos. Penso muitas vezes sobre a necessidade que as pessoas têm de procurar
a bóia de salvação para as suas vidas umas nas outras, quando ainda nem se
aventuraram a embarcar naquilo que a vida lhes reservou a sós.
Estar solteiro não é sinónimo de
estar sozinho e muito menos de andar desesperadamente à procura de alguém, como
oiço muita gente por aí dizer. Estar solteiro é simplesmente estar em paz quando
não encontramos a nossa paz em alguém. Porque o amor devia ser isso.
Devia. Aliás, o amor entre duas
pessoas é isso. O que há por aí são é muitas pessoas unidas pelo inferno, a que
chamam amor para justificar o facto de estarem com alguém. Alguém.
Estar solteiro é a virtude de não
estar com alguém. Por isso é que digo que isto é coisa de gente forte e com
caracter. Estar solteiro é esperar a pessoa certa, nunca alguém. Alguém é toda
a gente. É sair à rua e decidir que esta ou aquela vai ser minha namorada
porque tem olhos azuis e todo o mundo a gostava de ter. Ter a pessoa certa,
não. Ter a pessoa certa é sair à rua com ela de mão dada para todo o lado com
medo que o mundo a roube de nós. E mesmo assim saber que a pode soltar porque
ela nunca irá fugir.
Estar solteiro é muitas coisas.
É ir viajar sem data de regresso.
É desligar o telemóvel ao sábado à noite e acordar domingo às horas que nos der
na real gana. É jantar fora para festejar nada ou qualquer coisa inventada à
pressão só para servir de desculpa. Ou só porque sim. Porque solteiro não
precisa de desculpas. Estar solteiro é acordar a meio da noite e devorar o frigorífico
ou simplesmente fazer um chá e ver a lua nascer da varanda da sala vazia. É
sair porta fora sem destino e voltar com a sensação de que fizemos tudo o que
quisemos. E se assim não foi, sair de novo sem dar explicações a ninguém. É deitarmo-nos sobre a cama depois de um dia de trabalho e acordarmos
no dia seguinte vestidos sem que ninguém nos tenha acordado. É ter amigos do
sexo oposto como irmãos sem que ninguém sinta o ciuminho de sempre. É ser meia
noite e meia e estar a escrever isto por não ter nada mais interessante para fazer a não ser dormir.
Estar solteiro não é uma doença.
Não é uma busca desenfreada por alguém para nos aquecer os pés e nos dar mimos
no final do dia.
Estar solteiro é sobretudo amar a
nossa vida como ela é.
Mas lá que de vez em quando adormecemos a pensar nisso,
É verdade.
Patrícia Luz