"Valham-me as estrelas." - pensei, enquanto olhava o céu encostada no capô do carro.
Enquanto isso as luzes encadeavam-me. Os carros a alta velocidade passavam nas minhas costas.
Nenhum parou. Ninguém se importou.
A lua fina em quarto crescente subia por trás de uma árvore que se distinguia no escuro da noite, semi iluminada pela velocidade das luzes - ou das vidas que os carros levam dentro.
E eu ali, parada numa autoestrada, a morrer de fome, com um colete reflector vestido, ainda de sapatos altos a fustigar-me os pés e sem previsão de hora para a chegada do reboque.
Cinco minutos,
dez minutos,
vinte minutos,
meia hora,
uma hora ...
E as estrelas lá.
As estrelas lá em cima a brilhar.
A fé obriga-nos a questionar-mo-nos sobre o porquê das coisas.
E naquele momento questionava-me "Porquê a mim?"
Passaram mais alguns minutos.
Os carros continuavam a abanar o meu, onde me encostava, por consequência das altas velocidades a que ali passavam e eu acabei por me aperceber que nunca antes tinha visto o céu tão estrelado no algarve como hoje. O reboque tendia em não vir ...
Dei por mim ali, anestesiada, a apreciar aquele momento que aparentemente tinha tudo para ser infernal. E quando as palavras de suplicio dele me vieram à cabeça, quando me lembrei do quanto aqueles olhos castanhos fazem falta a olhar por mim, descruzei morbidamente os braços e olhei o céu uma última vez como quem implora forças divinas:
«Porquê a mim?» - entre dentes.
Uma estrela cadente caiu.
Não pedi desejos.
Espero que alguém os tenha pedido por mim.
O reboque chegou.
Patrícia Luz
5 de Setembro
Envolvemos-nos nas palavras! Gosto mesmo muito.
ResponderEliminarbeijinhos
elisaumarapariganormal.blogspot.pt