Ninguém merece emigrar.
Ninguém merece abandonar tudo o que o faz feliz em busca da (pseudo) qualidade de vida que o seu país nativo não lhe permite viver.
Há pessoas que entram na nossa vida para não nos esquecermos delas.
Um dia, há algum tempo atrás, conheci um rapaz que me disse que tinha de emigrar para Inglaterra.
Tudo seria normal nos dias de hoje em Portugal, se o não fizesse com o olhar translúcido de tristeza e o estômago enrolado num nó cego sem modo de ser desfeito.
O drama dele de abrir a mala e levar meia dúzia de coisas que em nada se comparariam com o lugar onde vive - e que ama-, o colo dos seus pais - que envelhecem de dia para dia-, o cheiro do mar - que lhe faz falta -, os amigos - que eram grandes de mais para caber em qualquer trólei de viagem -, o carro - que comprou com as poupanças desde que nasceu -, a casa - o "lar-doce-lar" inigualável (...) enfim, a essência que o permitia estar vivo todos os dias, ancoravam-no.
"Tinha de emigrar".
Lembro-me dele todas as vezes em que vejo alguém conhecido fazer as malas e embarcar na aventura de procurar o caminho que consideram certo para as suas vidas . Aquele, que o destino não lhe permite em terras lusas.
Corrigindo, aquele que são obrigados a considerar certo, porque as soluções escasseiam em terras lusas.
Na minha família ninguém emigrou.
Mas agora é como se tivesse emigrado. A maioria - longe - deixa saudades que vão daqui até à China, mas que, com algum esforço, são possíveis de matar em poucas horas (e gastando alguns euros). Não emigraram. Foram só para onde são mais felizes.
Agora eles? Eles, não.
Eles foram escorraçados do país que os viu nascer em busca de um lugar que lhes permite (sobre)viver, na sombra da solidão de não terem nada mais do que eles próprios, um ao outro, em quatro paredes longínquas, onde a língua é diferente, o clima rigoroso e os costumes também.
As férias em Portugal permitem-lhes visitar os irmãos, filhos e netos, alguns que permanecem sem ver durante anos.
Como é possível viver anos sem ver o sorriso daqueles que criámos? Sem o seu abraço e carinho? Sem acompanhar o crescimento de uns e o envelhecimento de outros? As suas lutas diárias. Alegrias, tristezas ... vitórias.
Ninguém merece emigrar porque tem que ser.
Ninguém merece envelhecer sozinho. Ninguém merece a saudade obrigada. O fazer das malas com limite de vida. A despedida sofrida de tudo e de todos os que ama, porque tem que ser.
Vejo todos os dias amigos meus ancorados num país que lhes corta o destino porque valorizam o que todos deveriam ter o direito de valorizar.
No outro dia despedi-me d'Eles.
Não sabem quando voltam.
Não sabem quando voltam.
O tempo não pára ...
Por cá, os netos vão crescendo, os irmãos envelhecendo, os filhos amadurecendo. Os momentos escapando aos olhos longínquos e as emoções aos corações que não podem sentir o que a vida preparou para lhes dar.
Talvez um dia... as portas deste país se abram, para que possam ficar.
Até lá, resta-lhes a dor de partir.
E a nós, que por cá ficamos, as saudades de os vermos voltar.
Por cá, os netos vão crescendo, os irmãos envelhecendo, os filhos amadurecendo. Os momentos escapando aos olhos longínquos e as emoções aos corações que não podem sentir o que a vida preparou para lhes dar.
Talvez um dia... as portas deste país se abram, para que possam ficar.
Até lá, resta-lhes a dor de partir.
E a nós, que por cá ficamos, as saudades de os vermos voltar.
Patrícia Luz
6 de Novembro de 2016
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