Homens e mulheres à volta da
mesa, a conversa chega ao perturbante tema das traições. É possível perdoar? É
possível esquecer? É possível uma relação sobreviver depois de um, ou ambos,
terem sido infiéis? Há quem ache que sim, mas eu, que sou pessimista por
natureza, acho que não. Para mim, é impossível esquecer, uma traição é um dano
tão grave que nunca se apaga da memória. Os traídos, sejam homens ou mulheres,
sentem-se humilhados, insultados, substituídos, e mesmo que amem a pessoa que
os traiu, irão sempre recordar aquele dia em que foram os últimos a saber que
estavam a ser encornados e o chão lhes fugiu debaixo dos pés. Nasce a raiva,
não só à pessoa que nos traiu, mas uma raiva que se estende ao sexo todo.
Mulheres traídas passam a odiar os homens, aquele e todos os outros; homens
traídos passam a odiar as mulheres, aquela e todas as outras do mundo. Alguns
nunca recuperam e tornam-se azedos. Em certas circunstâncias, dependendo da
idade das pessoas, da importância que dão à família e aos filhos, pode
tentar-se reconstruir a relação, e há casos em que isso se consegue. Mas a mim
parece-me uma intenção impossível. Acho que a perda de confiança é
irrecuperável, quem nos mentiu uma vez pode mentir a vida toda, e se aceitarmos
essa situação estamos a enviar a mensagem errada ao traidor. Quem perdoa e continua,
está a convidar os traidores a traírem mais outra vez. Quem trai e escapa
impune, sente sempre um sentimento de orgulho individual, de auto-satisfação, e
um dia voltará a sentir a mesma tentação. Não se aprende com os erros,
aprende-se é a errar melhor, e assim quem traiu refina-se, torna-se ainda mais
inteligente e volta a trair diminuindo as possibilidades de ser apanhado. Os
seres humanos são assim, não há volta a dar-lhe. Além disso, existe nos traídos
uma vontade de vingança que é uma bomba-relógio para o futuro. A vingança é
muitas vezes uma necessidade, a única forma de recuperar a auto-estima perdida,
e começa então o ciclo das traições. Ele traiu, depois traiu ela, ou ao
contrário, e a história nunca mais acaba. Mais vale cortar o mal pela raiz e
seguir em frente. Com a facilidade com que hoje se arranja outra pessoa, para
quê ficar com quem nos traiu?, in Dias Cães
E é isto. Se durante muito tempo fui apologista da luta incondicional pelo amor, hoje mudo a minha visão face ao assunto. Onde habita o amor jamais há lugar a descuidos temperamentais, a desculpas para a falta dele. Essa coisa da monotonia, da rotina das relações, do hábito, da conformidade, do "tu já és meu de qualquer das formas" não pode, nem é, nem pode ser, desculpa aceitável para que alguém tenha o direito de arruínar a nossa essência, abalar a nossa auto-estima e ferir o nosso ego. Há que aceitar que o amor, pelo menos por instantes, foi morto pelo desejo de querer mais do que aquilo que se tinha. E deixem-me que vos diga, um amor morto por instantes é das piores coisas que se pode querer viver no futuro.
Nada voltará a ser igual. Acreditem.
Por tudo isto, façam como eu, amem-se a vocês próprios. Esse é o amor mais fiel das nossas vidas.
Patrícia Luz
100% de acordo, só acrescento mais uma ideia a esse texto, trair é ser egoísta e egocêntrico da pior das formas...
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