Lisboa, 8 de
Dezembro de 2014
00.52 a.m
- Tu és uma pessoa solitária, não és?
- Não. Eu sou uma pessoa sozinha que não
deixa de viver as coisas boas da vida porque este, aquele ou o outro não pode,
não quer ou não lhe apetece.
Esta manhã
acordei cedo.
Não é que
não me apetecesse dormir até ao meio dia, lutando contra os freixes de luz que
o cortinado deixava entrar neste quarto onde agora repouso os pés cansados de
tanto andar.
Foi a
barriga a dar horas que me fez trocar o quentinho dos lençóis por um English
Breakfast na companhia do meu iphone.
Enquanto as
torradas me preenchiam o buraquinho no estômago, simultaneamente os meus dedos
corriam as redes sociais do momento em busca de nada, a não ser de ocupar os
olhos. (Esta coisa de ocupar os olhos tem que se lhe diga. Especialmente quando
sentes que tens mil pessoas a olhar para ti só porque és a única a tomar o pequeno-almoço
sozinha num domingo de manhã.)
Pensei
seriamente voltar a deitar-me. Mas depois de ofuscada com o dia solarengo de
inverno que via do lado de lá da janela, era um crime fazê-lo. Liguei o
computador e simultaneamente a algumas pessoas que não me atenderam o telefone;
eu e a minha mania de acreditar que toda agente acorda cedo a um domingo.
Google. “Agenda
Cultural de Lisboa”.
A única coisa
que realmente me interessava era ir ver uns quantos museus que por ser o
primeiro domingo do mês lá davam umas borlas ao pessoal, mas por sinal ficavam todos
na conchinchina e acabaram por me fazer abortar o plano muito antes de o delinear. É
que eu até gosto de aventuras. Mas as aventuras nos museus deixo-os para as séries
televisivas da TVI.
Vesti-me e
sai porta fora.
A melhor
solução para resolver um dia de sol quando estiveres sozinho é assim mesmo.
Primeiro que tudo sais porta fora e depois… logo se vê. Foi o que fiz.
E sabem que
mais?
Depois de
perceber que era das poucas pessoas a beber um copo sozinha num roof, a estar
num miradouro a contemplar Lisboa, a subir até ao castelo de são Jorge, a
percorrer as ruelas de alfama, a visitar a igreja da sé, a subir o Arco da rua Augusta e percorre-la de lés a lés, a desenhar num banco de jardim ou simplesmente a passear pelas ruas do
chiado, tudo isto a pé, apercebi-me do quanto gosto de mim. Apercebi-me que realmente é preciso coragem
para ser uma amante da vida a sós.
Apercebi-me
que só pessoas assim podem estar dispostas a gostar realmente de alguém. Porque esse alguém nunca será a calçadeira para o sapato. Mas sim a graxa para lhe dar brilho.
E é apenas a falta de pessoas assim que me faz correr Lisboa de mãos nos bolsos, quando parece que não faltam mãos para se dar.
Patrícia Luz