Eu não sou a melhor amiga do mundo. Aliás, eu não sou a amizade mais assídua do mundo, corrijo. Quero relembrar isto a todos os meus amigos do coração, porque de certeza que vão concordar comigo.
Eu vou estar meses sem dar sinais de vida e provavelmente só irão saber algo acerca de mim depois de já ter dado uma volta de trezentos e sessenta graus e feito o pino vinte vezes sozinha, sem eu própria saber como.
Eu não vou mandar mensagens dia sim, dia não, a saber se a vida lhes corre a preceito, como foi o dia de trabalho, como está a relação amorosa do ano ou se o piriquito que compraram a semana passada ainda é vivo.
Não.
Eu não sou o tipo de amiga de conveniência com quem só se sai à noite. Ou só se vai ao shopping. Ou só se liga num final de tarde de Domingo, porque nenhum dos mil duzentos e trinta pseudos-amigos de alguém não estiveram disponíveis naquele momento. Não sou, nem quero ser, a amiga que interessa ter por perto, só porque... interessa.
Eu sou a amiga que estará lá independentemente do que quer que seja, à distância de um simples "anda cá".
Eu tenho uns cinco ou seis amigos que me conhecem como a palma das suas mãos. E que já não me cobram ausências porque sabem que eu estarei sempre lá quando for preciso. Sabem que eu estarei lá, antes de me avisarem que é preciso. Eu estarei lá, quando mais nenhum dos seus outros amigos estiver. E estarei lá a ferro e fogo. A lutar por si como se fosse por mim. Seja por que razão for. Seja como tiver que ser. À distância de um simples "anda cá".
Porque os meus amigos, ou são ou não.
Não fui feita para meias amizades. Para quase amizades. Para pseudo-amizades. Para amizades da TRETA. Porque isso são tudo... menos amizade.
Tanto não fui, que comigo ou é ou não é. Não há espaço para meios-termos. Porque para ter meios-amigos, prefiro não ter. Prefiro correr o mundo sozinha. Prefiro dar uma volta de trezentos e sessenta graus as vezes que forem necessárias para aprender pela minha própria cabeça a errar e a resolver os meus problemas, a divertir-me e a lidar com a tristeza, a sofrer ou a deixar de o fazer. Prefiro falar com as paredes e ouvir o meu próprio eco, a ter amigos de merda, passo a expressão.
A amizade é um conceito dúbio. Cada um tem a sua noção, os princípios por que a regem para sí mesmos, aquilo que mais valorizam em cada uma delas. Normal! Somos humanos. Somos diferentes.
E aquilo que eu mais valorizo nas minhas, são coisas simples o suficiente para serem essenciais: Lealdade, honestidade e confiança. Simples o suficiente para ter apenas cinco ou seis amigos. Complicado o suficiente para não ter mais do que cinco ou seis amigos.
Não espero nada menos do que aquilo que dou aos outros: Lealdade, honestidade e confiança. Mas isto, eu espero mesmo, com unhas e dentes.
Ser amigo tem muito que se lhe diga. Aprendi que nesta vida temos dois de verdade, o nosso pai e a nossa mãe. E que também eles, estejam onde estiverem, estão sempre à distância de um "anda cá". E depois temos os outros, que à medida que o tempo passa e cujas provas vão sendo dadas, vão crescendo neste barómetro de sentimentos que nos faz gostar mais, ou menos, de alguém. Confiar mais ou menos em alguém.
É quase como um duelo bilateral. O esticar de um elástico com todas as forças do mundo, em que o primeiro a largar, a falhar, a errar, vai magoar o outro.
O objectivo das amizades não é magoar ninguém. Não é esticar o elástico com a finalidade de o largar a seguir. Acho eu, na minha reles e singela opinião. E é por isso que não se fazem amizades de um dia para o outro.
O objectivo das amizades não é dar uma palmadinha nas costas e dizer o que os outros querem ouvir. Não é ser a almofadinha de encosto quando não há mais ninguém. Ser amigo é muito mais do que isso. É ser frontal, é dizer a verdade, é dar opinião tal e qual ela existe dentro de nós. É falar quando algo não está bem. É não falar quando tudo está mal e substituir as palavras pelo maior e mais apertado abraço do mundo. É estar lá na saúde e na doença. É enaltecer as vitórias dos outros. É dar-lhes as mãos cruzadas para que apoiem o pé e saltem mais alto! É esquecer coisas da treta. É não ser orgulhoso. É saber agradecer e, mais do que isso, pedir desculpas. É ser-se fiel - assim como os cães são com donos, estão a ver? -, é ser-se honesto.... mas mais importante que isso é ser-se confidente. Eu creio até que o alimento e sustento de uma amizade é o poder da confiança.
E encontrar alguém confidente, é difícil nos dias que correm. Quase impossível.
Os meus amigos do coração estão sempre comigo, mesmo que eu não esteja com eles. E no dia em que precisarmos de ir à luta juntos, eu sei que eles sabem que estarei vestida dos pés à cabeça por eles e pronta para a guerra. Porque sou tudo aquilo que eu desejo que os meus amigos sejam para mim também.
Eles sabem descobrir o olhar triste por trás do meu sorriso, a minha ansiedade por trás da minha confiança, a minha angústia por trás da pessoa forte em que me tornei. Simplesmente porque me amam tal e qual como sabem que os amo a eles, como eu sou, como eu sou para eles.
A amizade é o amor mais bonito que existe no mundo. Múltipliquem só as de verdade.
Patrícia Luz
11-08-2018
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