segunda-feira, setembro 10

A Educação Comodista

Hoje volto às palavras. 


Alguns vão criticar-me depois de ler o que vou escrever, outros vão estalar o canto da boca e bradar aos céus "deixa chegar a tua vez, que logo vemos como é". Mas neste momento é a minha opinião e porque sou livre de a dar num espaço que ainda é meu, eu vou fazê-lo. No dia em que mudar de opinião também sou Mulher de me ajoelhar e admiti-lo. Agora não!

 Sou aquela pessoa que gosta de passear e ocupar o meu tempo sozinha. Faço mesmo muitas coisas sozinha. Vou à praia numa boa, faço snorkeling de vez em quando, vou ao shopping e até prefiro assim, vou áquele restaurante que quero mesmo experimentar e, que, por sinal não houve ninguém com a mesma vontade que eu naquele dia (ou mesmo, porque me aborrece ir com "alguém": uma pessoa que não é aquela que eu quero que vá efectivamente comigo àquele lugar - não sei se já vos aconteceu ou se sou a única pessoa estranha neste mundo a gostar de partilhar sitios específicos com pessoas específicas), enfim, já cheguei a ir sair à noite sozinha até, porque verdade seja dita nunca estamos sós. E na maior parte das vezes até se torna divertido. 

É essencialmente por isso acontecer que me tornei uma pessoa bastante observadora de tudo o que está à minha volta. 

É facto, que quando estamos a jantar com alguém, por exemplo, temos algo suficientemente interessante para nos ocupar as atenções: com quem falar, para quem olhar, em quem tocar, sobre o que rir. Mas quando estamos a sós, tudo é exterior à bolha da nossa existência naquele momento, naquele local, àquela hora... e por isso mesmo, a não ser que sejamos um ser macambúzio e desinteressado por natureza, tudo o resto, passa a ser o nosso foco. 

Tenho, por isso, reparado na educação comodista dos dias de hoje e quero falar dela. Primeiro porque me entristece na medida em que estamos a formar o futuro e, depois, porque assusta-me ter que vir a viver assim: com mesas compostas de famílias que se reunem em silêncio por trás do ecrã dos telemóveis. Não há gritos! Não há chatices! Não há um diálogo! Os irmãos já não roubam batatas fritas uns aos outros, porque nem despegam do telefone para olhar para o prato do lado!?! Como assim? Ninguém sabe nada de ninguém?! Ninguém está verdadeiramente ali. Ninguém está a valorizar aquele momento fantástico que é o de terem todos os seus familiares sentados à mesma mesa? 

Crianças com três anos de idade, ou menos, comem a olhar para um tablet. Porquê?
«Ah porque se não for assim ele não come!» - Como assim, não come? Não se comia antigamente, nesta vida? 

«Porque é a forma de o ter sossegado!» - As crianças não nasceram para serem peluches de estimação! 

«Porque se não for assim, não conseguimos jantar sossegados com os nossos amigos.» - Então mas... quando se deitaram naquele dia de amor louco, não se lembraram que os jantares com os amigos nunca mais seriam os mesmos? 

Antigamente não era assim. Porque é que agora é? 

Logicamente porque a civilização evolui (nem sempre para um pólo extremamente positivo, convenhamos) e temos que nos adaptar. Ok! Então mas e.. temos mesmo que nos adaptar a algo que destrói a educação das normas de conduta em sociedade? A educação do bê à bá da vida? 

Na minha opinião não. 

Na minha opinião estamos a assistir a uma educação comodista de pais que não se querem dar ao trabalho. Que não se querem chatear. Que estão nem aí para se chatear. Que querem ter filhos e ter paz e sossego. Onde é que está a lógica?

Continuamos a criar pequenos monstrinhos de laboratório que nunca saberão o gosto amargo de um NÃO! Que nunca conhecerão o significado de um olhar durão - porque nem tão pouco tiram os olhos dos ecrãs para olhar para os pais. Que em poucos anos, estarão - como alguns até já fazem - a dar ordens aos pais. A fazer exigências. 

Há excepções? Claro que há. Há pais que regram as coisas! E não limitam o avançar da civilização aos seus filhos. Mas nada como ter conta-peso-e-medida. Porque até nisso é possivel a educação ter um papel activo. E a esses eu tiro o chapéu! 

Mas... e o resto? 

Sento-me nessas mesas muitas vezes sozinha a observar estas familias modernas, tão grandes e tão sós, tão avançadas tecnologicamente mas tão vazias do que realmente importa e penso o quão bom é viver na minha bolha. Mas quão triste é querer ter a minha família sentada à minha mesa e não ter. 

Há vinte cinco anos atrás, formar Homens para o bê à bá da vida era tarefa honrosa, para aqueles que a faziam bem. Hoje, esperemos que o google ensine.  

Beijinhos,  
Pat
10 de Setembro 2019




1 comentário:

  1. Já estás em 2019?? :)

    Concordo, de forma, genérica com a mensagem e o teor do texto, todavia, temos de ter cuidado com as análises simplistas. As relações humanas são demasiado complexas, para serem espelhadas em determinadas situações e existe, quer queiramos, quer não, sempre uma barreira geracional dificil de superar.
    No início dos anos 2000, poderias ver miúdos a jantar e a ouvir músicas num discman ou nos anos 90 ou 80 com um livro para colorir ou para ler. Se calhar esses momentos, "proporcionados" pelos pais, são momentos importantes, nos quais, aprendemos a estar sozinhos (momentos, dos quais, por exemplo, tu tanto gostas) como descreves no início. Depois, é difícil não permitir que os nossos filhos façam algo, que é prática habitual das outras crianças.
    Mas concordo que, vivemos numa sociedade demasiado dependente da tecnologia e que cabe aos Pais (que tenham paciência para a parentalidade) servirem de ponto de equilíbrio, de forma, a que os filhos não percam essa humanidade e comunicação directa. Nisso sou um apóstolo do Jamiroquai. Ele já o afirmava há muitos anos.

    https://www.youtube.com/watch?v=mlzdsr4Ss54 ;)

    Continua. Escreves muito bem. Bj

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