domingo, maio 19

Clubismos


Clubismos. Esta treta que existe desde que me lembro..
Quando era miúda, era tema em todos os almoços ou jantares de família, conversa de natal, de páscoa e carnaval; discussão acesa. O meu tio e avô, lampiões assumidos faziam-me promessas de cachecóis e jogos ao vivo no estádio, por entre piadas destrutivas de leões e lagartos; o meu pai explicava-me a essência de ser verde de coração, contava-me as origens dos jogadores que fizeram história aqui e além fronteiras, sempre dizendo que melhor que qualquer clube que pudéssemos escolher era perceber o quão bonito podia ser aquele grande desporto no nosso país, sempre lembrando outros, não menos importantes. E todos os anos era isto.. 
Um dia, preguei-lhes um susto valente. Assumi perante ambos que era do porto porque o céu era azul e grande e assim podia sempre olhar para ele. Coisas de miúda, naquelas alturas em que todos os nossos amigos nos dizem que o sangue é vermelho e sem ele não podias viver, e que as árvores são verdes e criam oxigénio. E durante tempos as discussões passaram a troça, e a chantagens baratas do "então já decidiste mudar para o melhor clube de sempre?" ou "Tenho uma prenda pra ti ali no carro quando deixares esse clube feio". Valeu-lhes o susto! E demorei a fixar-me no meu clube do coração. Era uma verdadeira troca tintas! Cheguei a ser do sporting quando estava com o meu pai, do benfica quando viajava na carrinha do avô e nos dias que ia com o tio ao café, do porto para os meus amigos. Uma vergonha! Ou não. Na verdade não passavam apenas de cores, nessa altura.

Escrevo isto num dia critico para alguns e festivo para outros. Lembrando-me do meu avô, do meu tio, do meu pai e daquilo que me diziam e, agora, comparando-o com o meu mural do facebook vejo que poucas coisas mudaram. Os insultos continuam, as criticas ao outro também. O futebol tem-se tornado cada vez mais num desporto canibalista. É cada vez mais o espelho da sociedade em que vivemos, do portuguesinho, do mau perder, da má formação e educação... enfim.

São escolhas. Respeitem-nas e amem-nas à sua medida, na hora da sorte e do azar, porque é isso que move todo o tipo de jogo. Fair Play e mais amor que ódio. É isso que nos falta, sejamos verdes, vermelhos, azuis, pretos aos quadradinhos, amarelos, azuis ou laranja.




Sem comentários:

Enviar um comentário