Quero escrever sobre nada.
Quantas são as vezes em que o quero fazer e não consigo. Sentar-me aqui a olhar para esta tela branca tira-me do sério. Deveriam existir cadernos dentro das nossas cabeças para escrevermos às escuras; ou para guardar o que nos passa por ela nas noites em claro a pensar em mil e uma coisas que fazem todo o sentido naquele momento, ou não. São tantas as vezes que escrevo crónicas de amor infinito antes de adormecer, que guardo um ódio infinito a mim mesma quando não lembro mais no dia seguinte aquelas que eram as palavras mais do que acertadas para descrever o que queria deixar fugir cá para fora. Nessas alturas lembro-me de Fernando Pessoa. Se bem me lembro dos tempos de escola, ele dizia que a escrita não podia ser desenhada no momento em que sentimos tudo de todas as maneiras. Que era preciso guardar saudades invisíveis para conseguirmos pensar sobre elas, deixar crescer dentro de nós o bichinho do sentimento falhado para conseguirmos sentir o que queremos realmente dizer, ainda que tarde, mas a bom tempo. Não podia estar mais de acordo. Quantas vezes quero descrever a raiva que sinto e a própria raiva me faz engolir tudo a seco? Quantas vezes há um amor desmedido a fervilhar-me nos dedos e nada sai com a intensidade com que pensamos nas coisas? De certo que me tornaria na pessoa mais pirosa à face da terra se fosse descrever tudo o que me passa pela cabeça nesses dias bons... era de dentro para fora, se o conseguisse realmente fazer como sonho nas palavras que os meus sentimentos murmuram por vezes. Quantas vezes há medos? E medo do medo de escrever à cerca dele ... Quantas vezes há certezas incertas? E sentimentos falhados que acabam por fazer sentido? ...
Agora que penso, ainda bem que, às vezes, os bloqueios mentais existem. Escrever sobre nada podia revelar-se num tudo bom de mais para ser verdade.
Patrícia Luz
2 de Novembro de 2011
outfit de hoje
Praia de Faro, "hello november!"
Sem comentários:
Enviar um comentário