domingo, abril 7

Uma vida de luxo


 




Há dias, não há muito tempo, fui assistir a uma conferência onde pessoas inspiradoras e muito talentosas falaram de vários temas, de entre os quais, um deles era "o luxo".


Durante os últimos dias tenho estado realmente a pensar o que raio é isto do luxo e quais as várias acepções que podemos ter para este tema e cheguei a uma conclusão.

Luxo é uma métrica que pode ser o que tu quiseres que seja. 

Há algum tempo atrás, quando pensava nesta palavrinha de quatro letras, vinha-me instantaneamente à cabeça muito dinheiro. Muito dinheiro gasto em coisas muito caras. Coisas muito caras que custam muito dinheiro. Hotéis, jóias, carros, casas, roupas, acessórios, ... enfim, uma panóplia de coisas que só no nosso imaginário poderão um dia vir a ser nossas, no caso de pertencermos aquela percentagem de pessoas no mundo que, têm uma vida singela e, até então, ainda não tiveram a sorte de acertar nos números mágicos daquela simples, mas complexa, cautela do euromilhões.

Hoje não. 

Aprendi que luxo pode ser apenas o que me faz feliz. O que me surpreende. Aquilo que me deixa com o coração calmo, os pés assentes firmemente na terra, o que faz a minha cabeça viajar sem sair do sitio. 

Luxo não é nada do que imaginei há uns tempos atrás.

Porque luxo, para mim, é caminhar descalça por aí. Sentir o alcatrão quente nos pés, ou a areia nos dias de verão. Vir salgada da praia e tomar um banho de mangueira, com aquela água que o sol aqueceu. Comer um sargo assado no mesmo braseiro que assou pimentos verdes e, acompanhar tudo isso, com tomate rosa da horta mais próxima. 

Luxo é acordar todos os dias com saúde: respirar fundo para garantir que estamos vivos, todas as manhãs. 

É ver o nascer do sol, quando todo o mundo ainda dorme. Poder, por isso, receber a calma da cidade que nesse momento desperta, encantada pelo palrear dos pássaros. Luxo é poder ver. É ter olhos para poder contemplar o céu colorido num final de tarde abrasador. É ter pele, para poder sentir a brisa fresca das noites de primavera ou aquela lufada de ar quente nos finais de tarde de verão. Luxo é sair do trabalho e poder correr num contra-tempo até à praia mais próxima, para ouvir o barulho do mar. Poder vê-lo a espelhar o céu, ou a lutar contra as falésias em dias de tempestade. É despir as roupas todas que não nos fazem falta e mergulhar nele. Observar os peixes na sua vida delicada. E voltar a terra com uma serenidade absoluta. 

Luxo é entrar numa taberna sem luxo nenhum, e além do sorriso do lado de lá do balcão, ter os sabores de uma vida numa só mesa. É ser tratado pelo nome próprio, no dia do regresso ao mesmo local. 

É ter pernas para correr. Correr atrás dos sonhos.   

É muito mais do que isso. 
É viver numa família unida e feliz. É ter um pai, uma mãe e um avô para abraçar quando o mundo à nossa volta desaba.
Hoje em dia, é ter um amigo. Aquele que em momento algum nos irá falhar; aquele, 
com quem temos a certeza que podemos fechar os olhos e cair em queda livre, que ele estará lá, como uma rede trapézio para nos amparar. 

Luxo é poder sentir o cheiro da natureza. A terra molhada. A chuva a cair. 
Ouvir a chuva bater nas vidraças, enquanto, do lado de cá, podemos sentir o quentinho de um abrigo, que tanta gente não tem. Debaixo dos cobertores de uma cama, que para tantos não existe. 
Abraçar com as mãos frias, uma caneca de chá quente. 

Luxo é ter uma estante de livros a olhar para nós.
Termos tido a sorte de ter aprendido a ler e usufruirmos da benção de poder absorver o que alguém um dia escreveu. 
É existir a música perfeita para cada ocasião. É ela ter o poder de nos curar.  

É ter paz de espírito, num mundo excessivamente veloz, cada vez mais deprimido e solitário.
Garantir um coração sereno, uma vida saudável, uma mente sã, uma alma limpa. 

Tantas vezes achei que luxo era coisa de pessoas ricas.

Hoje entendo, que rica sou eu, pois nunca precisarei de jóias, carros, hotéis, ou o que seja, para me sentir grata por tudo o que de melhor me rodeia.

Esperamos tanto por coisas que talvez nem cheguem e esquecemo-nos de parar, olhar ao redor, abrir os braços e apertar junto ao coração tudo aquilo que o universo nos ofereceu, de mão beijada. 

Luxo? Luxo é ser grato. 
Luxo é ser feliz com as coisas grátis da vida.  

Patrícia Luz
7 de Abril 2019








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